Na guerra o vencedor demonstra a superioridade dele pela força. Na política, pela astúcia.
Autor: Raphael Lima
E o eleitor?
O primeiro debate no segundo turno das eleições para prefeito de Belo Horizonte foi uma aula do que não se deve, de forma nenhuma, fazer numa campanha: esquecer o eleitor. Disputam a eleição, João Leite, pelo PSDB e Alexandre Kalil pelo PHS. João Leite foi jogador de futebol e o maior tempo da profissão, ele jogou no Atlético Mineiro. Alexandre Kalil foi presidente do mesmo clube durante seis anos, dois mandatos.
No debate, eles partiram para as agressões pessoais e quase chegaram às vias de fato, à pancadaria. O vídeo está aqui copiado, para você mesmo analisar.
Uma campanha eleitoral tem como objetivo fundamental oferecer aos eleitores as informações e dados, que os ajudem a decidir o voto. Os candidatos e a imprensa têm o papel de fornecer e organizar as informações. Portanto, numa campanha para fazer sentido tudo isso, os candidatos, nas entrevistas, programas de TV e debates devem falar, conversar com os eleitores. No debate publicado aqui, dois caras brigam entre si e se insultam o tempo todo. Um erro.
No entanto, aos 48m56 no vídeo, Kalil mostrou que a ficha caiu. Ele usou os 40 segundos finais dos 90 segundos que teve para responder com um pedido de desculpas ao eleitor pela qualidade do debate, mas alfinetou o adversário, ao final: “Eu quero acabar nesses 43 segundos, pedindo desculpas pra você, tá? Pedindo desculpas pelo o que tá acontecendo aqui hoje. Eu, pessoalmente, estou envergonhado. Eu não vim aqui pra isso. Eu não achei que nós íamos chegar a esse ponto. Então, da minha parte, eu quero adiantar a todos vocês as minhas desculpas…”
Sobre o debate, comentei também no meu facebook:
Por Jackson Vasconcelos
Trump abriu a porta do inferno
A campanha presidencial nos Estados Unidos anda quentíssima e o calor vem de um tema que derrubou Donald Trump: as mulheres.
A corrida que tira o fôlego de Trump começou com a publicação de um vídeo gravado em 2005, de uma conversa dele com o produtor de um programa de TV. Trump faz comentários vulgares sobre as mulheres, depois de confessar que, mesmo casado, tentou ter relações sexuais com uma mulher casada, porque, “quando você é uma estrela, as mulheres deixam você fazer qualquer coisa com elas”.
Trump assume o fato, pede desculpas e deveria ter parado por aí. Boquirroto arrogante, ele foi além, para acusar o marido da adversária, Hillary, o ex-presidente Bill Clinton de abusar de mulheres. Não satisfeito, ele levou para o segundo debate três mulheres que teriam sido vítimas do Bill. Quis constranger a Hillary.
“Pau que dá em Chico, dá em Francisco”. A reação às acusações do Trump foram imediatas. Várias mulheres assediadas por ele apareceram para dar depoimento sobre as taras do candidato. Na mesma esteira, financiadores da campanha dele pediram devolução do dinheiro e gente do partido dele saiu da campanha. Um desastre, que deverá definir a eleição.
Mas, como “seguro morreu de velho”, os Democratas não aceitaram a conversa de campanha fácil. Todos entraram em campo para vencer, até mesmo o Presidente Barack Obama, com bastante vontade.
A arrogância é péssima companheira numa campanha eleitoral.
Por Jackson Vasconcelos
A campanha ajuda você a entender a dimensão humana da cidade, nas coisas boas e nas coisas tristes
A campanha ajuda você a entender a dimensão humana da cidade, nas coisas boas e nas coisas tristes
Caiu na Rede, mas não é peixe. É ornitorrinco.
Foi um fiasco a participação da Rede Sustentabilidade nas eleições municipais. Elegeu os prefeitos de Brejões, Livramento de Nossa Senhora e Seabra, na Bahia. Também o de Cabo Frio, no Rio de Janeiro e Lençóis Paulistas, em São Paulo. Ficou nisso.
Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro apresentou-se com Ricardo Young e Alessandro Molon, um não alcançou 1% dos votos. O outro só conseguiu isso.
Mas, a expectativa dos formadores de opinião, comentaristas e palpiteiros, era de um desempenho melhor, porque Marina Silva criou, lidera a Rede Sustentabilidade e obteve bons resultados nas eleições presidenciais que disputou. O que houve?
Os sinais ruins apareceram na campanha de 2014. Marina Silva não conseguiu criar a Rede Sustentabilidade. Fez-se candidata à Vice-Presidente de Eduardo Campos, do PSB. Antes de ser exposta como candidata à Presidência, posição que assumiu porque morreu Eduardo Campos, Marina Silva tinha rejeição de menos de 20%. Encerrou a campanha com 31% e abriu o ano das campanhas municipais com 46%. Uma brutalidade estatística, que só o derretimento de uma imagem explica.
Marina Silva tem errado o suficiente na estratégia ou na falta dela. Assim que assumiu o papel de candidata à Presidência, substituindo Eduardo Campos, ela substituiu o coordenador financeiro da campanha. Provocou uma crise interna na aliança, que sustentava a campanha e passou a imagem de saber de fatos desabonadores de um grupo do qual ela fazia parte há bastante tempo.
Adiante, resolveu revidar os ataques que recebeu dos principais adversários, Dilma Rousseff e Aécio Neves. Igualou-se a eles.
Fora isso, Marina Silva é prolixa, confusa e tanto mais expõe a imagem, mas cansa os espectadores. E nada é mais confuso do que um partido político ter o nome de Rede Sustentabilidade. Algo assim, não tem vocação para ser grande. E não suficiente o fato do nome ser ruim, a Rede Sustentabilidade tem estrutura também confusa. Não tem presidente, tem porta-voz.
E como é difícil definir a linha ideológica da Rede Sustentabilidade. Quem consegue? O que ela prega? O que defende? Se os partidos pertencessem ao reino animal, a Rede Sustentabilidade seria, sem dúvida, um mamífero que põe ovos. Um ornitorrinco!
Por Jackson Vasconcelos
Mulheres decidem eleições
Donald Trump marcou o segundo debate na disputa pela Presidência dos Estados Unidos com grosserias a Hillary Clinton. Ameaçou-a com investigação que a levaria à prisão e colocou na plateia, como convidadas dele, três mulheres de denunciaram à imprensa e não à polícia ou à Justiça, o marido da Hillary por assédio e violência sexual. As três não terem ido à polícia ou à justiça é sinal de exploração política da denúncia. Fato confirmado e reafirmado, quando as três compareceram ao debate só para afrontar Hillary.
Em debate mais equilibrado, Trump se esquiva de escândalo e ataca Hillary – Folha de São Paulo
Bill Clinton estava na plateia acompanhado da filha, situação que tornou mais agressiva a grosseria do Donald Trump e das amigas de ocasião. A vida de Trump como candidato já não andava fácil. Piorou bastante.
Fez parecido o deputado federal Pedro Paulo, quando sujeitou a ex-esposa à humilhação, numa entrevista coletiva, durante a campanha para a Prefeitura do Rio. Não precisava. O resultado da eleição mostrou que também não adiantou.
‘Quem não exagera numa discussão?’, diz Pedro Paulo sobre briga com ex – G1
Aécio Neves chegou perto nos debates da campanha presidencial. Colocou o dedo no rosto da candidata Luciana Genro e tratou com ironia a adversária Dilma Rousseff. Chegou ao ponto de chamá-la de “leviana”, termo que o povo nordestino utiliza com sentido grave.
Ciro Gomes agrediu Patrícia Pillar com a história de que ela, esposa dele, tinha um papel definido na campanha: “Dormir com ele”.
Cenas de machismo explícito – Observatório da Imprensa
Pedro Paulo e Aécio ficaram no caminho. Trump também ficará.
Por Jackson Vasconcelos
Bill Clinton alia-se a Pedro Paulo
O primeiro turno da campanha para Prefeito do Rio foi monotemática, por isso, produziu um resultado inesperado: Marcelo Crivella, representante do fundamentalismo religioso, contra Marcelo Freixo, representante da anarquia e terrorismo urbano. Coisa de doido, doutor.
A violência contra a mulher foi o monotema da campanha, porque o candidato do PMDB foi acusado pela ex-mulher de surrá-la.
Nos Estados Unidos corre a campanha para Presidente. Disputam Hillary Clinton, pelos Democratas, e Donald Trump, pelo Partido Republicano. O monotema da campanha no Rio se tornou tema por lá. Um vídeo de 2005, do Trump com palavras grosseiras contra as mulheres apareceu. Ele não conversou. Convidou para o debate com a Hillary três mulheres que denunciaram à imprensa o marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, por abusos sexuais.
Os movimentos nas campanhas de lá e de cá serão coincidência? Podem ser. Mas, mesmo para as coincidências existe explicação. A política no mundo todo perdeu a capacidade de ler o pulso da população e acredita que o povo goste mais das acusações mútuas do que os exemplos pessoais de vida política. Perdeu o senso sobre o papel da política na construção de um mundo melhor.
A Globo News, no programa “Sem Fronteiras” tratou um tema que tem linha direta com a relação da população com a política. O repórter Tonico Pereira abriu o programa “As abstenções de voto no mundo: qual o futuro da democracia representativa?” com o número de pessoas que não foram votar: 25 milhões de brasileiros, “Isso equivale à população da Austrália”, disse Tonico.
Em seguida, entra Silio Boccanera, que está em Londres: “Aqui na Europa, a tradição de comparecimento às urnas cede lugar à uma abstenção crescente, sobretudo, entre jovens”. Depois, entra Jorge Pontual, de Nova York: “A descrença nas propostas dos partidos majoritários ameaça bagunçar ainda mais a já apertada corrida à Casa Branca. Que recado os eleitores do mundo todo estão tentando dar aos políticos? Será que a democracia representativa entrou em crise?”
Tonico Pereira volta à cena para dizer: “Milhões de brasileiros renunciaram a esse poder (democracia representativa) no primeiro turno das eleições municipais. Em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mais de 40% dos eleitores não foram votar, votaram em branco ou anularam o voto. Uma interpretação é que os eleitores deram um recado aos políticos pelos maus feitos revelados recentemente”.
Não tenho meios para medir nem dados para comprovar o meu sentimento, que contraria o do programa e de muita gente que anda a analisar o resultado das urnas no mundo todo. De nenhum comentarista recebi dados para contestar a minha interpretação, então fico bastante à vontade para afirmar: a decisão dos eleitores aqui e no mundo todo nada tem com satisfação ou insatisfação com a política, mas com a dificuldade de encontrar um, pelo menos um, que mereça o voto por uma história de vida ou imagem que garantam o cumprimento dos compromissos que os candidatos assumem nas campanhas.
Mas, há, na matéria da Globo News outro erro de avaliação. Tonico Pereira, quando comentou a abstenção no Brasil traçou um paralelo com a Colômbia: “As altas taxas de abstenção não são uma exclusividade do Brasil. Na Colômbia, por exemplo, 60% dos eleitores não foram votar no referendo, que decidiu o futuro de uma guerra, que se estende por mais de 50 anos”. Será que a abstenção na Colômbia foi um recado da indiferença ou do medo de votar numa situação que envolve terroristas?
Por Jackson Vasconcelos
A cultura pode sabotar a estratégia, por mais exata que ela seja
A cultura pode sabotar a estratégia, por mais exata que ela seja
No meio do caminho teve um feriado
Nelson Motta confirma, oito anos depois, que a decisão do Sérgio Cabral Filho de decretar feriado na véspera da eleição para eleger Eduardo Paes deu certo. O fato está de passagem no artigo “Na era da pós-verdade” publicado pelo Nelson no Caderno Eleições 2016, da edição do jornal O Globo de segunda-feira (10/10):
“Em 2008, fiz campanha para Fernando Gabeira, até pedi votos na televisão. Heroica e milagrosamente, ele foi ao segundo turno e, certo da vitória, fui viajar com minhas filhas. Não votamos no segundo turno, e Eduardo Paes ganhou por 50 mil votos” – (Para ampliar, clique na imagem).
Mas, para dar certo, a estratégia aplicada pelo governador Sérgio Cabral Filho precisou de uma mãozinha do candidato que ele derrotou. O último programa de TV do Fernando Gabeira, nos momentos finais da campanha, apresentou uma pesquisa que garantia a vitória dele. Deu no que deu.
Com certeza, ao apresentar o resultado da pesquisa no último programa, a equipe do Fernando Gabeira pensou conquistar o voto dos eleitores “oportunistas”, gente que não quer perder o voto e, por isso, escolhe o vencedor. Uma classificação da turma do marketing eleitoral, que não provou ser verdade.
Na mesma edição de O Globo, pouco abaixo do artigo de Nelson Motta, o repórter Marlen Couto encaixou sobre o tema, o texto: “Folga de Alto Risco – Feriado no meio do caminho para as urnas”. Reproduzo aqui, pelo valor que tem ele como elemento de estudo para a formulação de estratégias para as campanhas:
Por Jackson Vasconcelos
Seja diferente e melhor que o adversário
Imagine você num shopping com o desejo de comprar uma camisa, que você viu numa propaganda na TV. Você roda, roda, roda, e não encontra. Se precisa muito mesmo de uma camisa, você comprará outra, já que a que você queria você não encontrou. Mas, se você tem camisas suficientes e só gostaria de ter a que você foi comprar, você sairá do shopping sem comprar.
É assim uma campanha eleitoral. Muita gente olha os candidatos na TV, nas ruas, no material que recebe. Olha, mas não percebe, porque todos os candidatos são iguais, fazem propostas iguais, criticam uns aos outros do mesmo modo. Como você não está a procura de um candidato qualquer, você, simplesmente, não “compra”, não vota.
Eis a resposta para o percentual de abstenção, e de votos brancos e nulos, enorme nas capitais. Nenhum candidato fez diferença. No Rio de Janeiro mais de 40%, em Belo Horizonte também e, em São Paulo, quase isso. E foi assim Brasil afora. Porque ninguém encontrou um candidato em quem pudesse votar. Por quê?
Primeiro que todos eles têm a mesma proposta. Como eles fazem a mesma pesquisa e a pesquisa manda falarem a mesma coisa pra todo mundo, todo mundo falou igual. Aí pensamos assim “Ah, já que todo mundo propõe a mesma coisa, tanto faz votar em um quanto no outro. Vou lá e voto. Mas chegamos à conclusão, quando você olha para trás, que nenhum desses caras cumpre aquilo que fala, porque eles não têm convicção. Daí eu fico na minha e voto em ninguém”.
A maneira de mudar isso, para tornar a democracia brasileira mais ativa, mais participante, é o político ser político todas as horas do dia, como um sapateiro, como um médico, como um dentista. Mas não conseguem ser. Passada a campanha, os políticos somem.
Daqui a pouco você vai ver um monte de facebook que ninguém mexe, um monte de twitter que ninguém atualiza, sites que ficam esquecidos. Você não verá mais o sujeito que você apertou a mão passando na sua rua. Passou a campanha, os candidatos, eleitos ou não, voltam para o planeta deles e só daqui a dois anos retornam. Por isso que é cada vez mais difícil escolher um candidato.
Se os políticos mudarem esse procedimento e passarem a ser políticos todo o tempo da vida deles, eu, na próxima eleição, e você, vamos ter muita facilidade de escolher um candidato e votar. Eu tive o meu candidato nessa eleição e votei nele, você pode ter tido ou não, a verdade é que quase 50% da população das capitais não encontrou ninguém em quem votar.
Por Jackson Vasconcelos