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Pesquisas em terra de cegos

Hoje, último dia de janeiro do ano da eleição, dez meses antes do dia da decisão, o Datafolha publicou nova pesquisa. O resultado está resumido na capa da Folha de São Paulo: “Sem Lula, Bolsonaro lidera e quatro disputam o 2º lugar”. Que sentido faz isso? Pra que serve? Se Lula não for candidato, quem será pelo PT? Quem for, com o apoio do Lula, fará diferença? Mas, para responder essa questão, a pesquisa mostra a distribuição dos votos do Lula entre os demais candidatos “definidos” e os votos brancos e nulos. A manchete interna do jornal é “Em cenário sem petista, índice dos que não tem candidato chega a 3%”. Outra informação sem sentido.

Sempre que leio os comentários e manchetes sobre pesquisas eleitorais me pergunto de que ângulo o cego está apalpando o elefante, para entender o sentido do que ele informa. Essa história de cegos e elefantes me veio com a leitura preciosa da obra “O Mistério do Capital – Por que o capitalismo dá certo nos países desenvolvidos e fracassa no resto do mundo”. Escreveu-a o economista e político peruano, Hernando de Soto. Obra prima.

Sobre elefantes e cegos, diz Hernando: “Muitos de nós somos como os cegos na presença do elefante: Um segura a tromba ondulante do animal e pensa que o elefante é uma cobra; outro encontra sua cauda e pensa que o elefante é uma corda; um terceiro fica fascinado pelas enormes orelhas em forma de vela; outro abraça suas pernas e conclui que o elefante é uma árvore. Nenhum examina o elefante em sua totalidade, e consequentemente não conseguem formular uma estratégia para lidar com esse problema de tão grande porte em suas mãos”.

Assim, agem os comentaristas de pesquisas, olhando, cada um, para seus próprios interesses, suas paixões e preferências. A imprensa, por exemplo, precisa das pesquisas para criar manchetes espalhafatosas. Estamos há bastante tempo com manchetes de Lula e Bolsonaro favoritos na eleição para presidente, quando a experiência indica que isso pode não durar.

O importante para a imprensa é: As manchetes da Folha, certamente, venderam hoje mais jornal e audiência. Isso durará o dia todo para atravessar a noite, nos diversos telejornais. Afinal, nesses tempos duros, que Mário Vargas Llosa define numa grande obra como “A Civilização do Espetáculo”, como ele diz, há a quantidade em detrimento da qualidade.

Logo abaixo da análise da pesquisa, a Folha dá notícias de um curso para formar políticos, o Renova BR. Tem gente importante na sala de aula, por exemplo, Fred Luz, CEO do Flamengo, que eu conheço e respeito muito. Ele está com muita vontade de entender como a política funciona. A pesquisa Datafolha e os absurdos que ela informa podem ser úteis ao Fred e a todos os alunos do curso.

Por Jackson Vasconcelos

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É o jeitão dele…. Só isso

Aplaudi a análise que faz a Adriana Carranca sobre o primeiro ano do Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos. Ela mostra que tudo o que diz e faz o Presidente está em linha, em identidade perfeita, com o que pensa o partido dele. Mas, quem ouve Donald Trump, lê e vê o que ele faz, é levado a acreditar que o cara é inédito. Tudo porque ele diz e faz com um jeito só dele, histriônico, que causa desconforto em quem o rejeita e frisson em quem gosta dele.  

“O lado bom de Trump”, de Adriana Carranca

Donald Trump, diante do texto da Adriana Carranca, é a melhor demonstração de que um político para ter sucesso precisa ser, antes de tudo, um ator, que vocaliza com força o que pensa e tem a mímica correta para o escândalo ou surpresa que queira causar.

Por Jackson Vasconcelos

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Moreira Franco sabe, mas não diz

Moreira Franco, hoje Ministro de Estado, conversou com os gigantes do Valor Econômico, Claudia Safatle e Raymundo Costa. Conversa longa, que o jornal publicou na última quinta, 18. Moreira fez análise das relações do Poder Judiciário com o Poder Executivo e do modo como se faz a relação do Poder Executivo com o Poder Legislativo.

Moreira firma posições para a relação entre o Judiciário e o Executivo, que podem ser resumidas no conceito de abuso de poder. Para o segundo caso, Moreira oferece a exaustão: “O modelo político atual está exaurido”. Ele se refere às negociações com base na distribuição de cargos.

Há, de fato, abuso de poder na relação do Judiciário com o Executivo, caso bem exemplificado, pela suspensão da posse da deputada Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho. Mas, é abuso de poder justificado pela falta de legitimidade do Executivo. O governo Temer está sustentado na legalidade, exclusivamente. Deixou de ser legítimo, quando 80%, quase 90%, dos eleitores não o apoiam.

E, é também verdade que o modelo político está exaurido e faz tempo, mas não está morto, justificado pelo mesmo motivo: falta ao governo Temer legitimidade para enfrentar as propostas indecorosas dos partidos.

Estamos, então, diante de uma situação política concreta: para colocar ordem na casa será preciso passar pelo processo purificador de uma eleição que dê ao Brasil governos legítimos, governos que tenham autoridade moral na legitimidade para enfrentar abusos de poder e esculacho nas negociações políticas.

Por Jackson Vasconcelos

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Rodrigo Maia ensina estratégia…

Aconteceu no Brazil Institute, mas poderia ter acontecido em qualquer outro ponto de Washington e o significado político seria o mesmo, porque a cidade é símbolo de um povo que tem a exata dimensão do papel do Estado e do que é cidadania. Eis o palco escolhido pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para marcar posição no arco ideológico que, até ele falar, muita gente não percebia existir.

Rodrigo Maia escolheu a estratégia correta. No lugar melhor, Washington, fez o discurso certo, contra o Estado que dá esmolas para manter a dependência dos pobres e, por isso, barra o caminho do empreendedor e do trabalho que dá cidadania  e no pior momento para o dono do discurso de dependência, quase véspera do julgamento do Lula, com repercussão nacional.

Quem olhar com os olhos de um estrategista as notícias divulgadas pela imprensa daqui e do mundo, concordará que Rodrigo Maia fez ótimo uso da ferramenta.

 

 

O Globo: Maia afirma que Bolsa Família ‘escraviza’ as pessoas
Presidente da Cämara dos Deputados afirma em Washington que o ideal é a geração de empregos
>>> https://oglobo.globo.com/brasil/maia-afirma-que-bolsa-familia-escraviza-as-pessoas-22296779

Brazilian Lawmaker Says Family Allowance ‘Enslaves’ Citizens
>>> https://www.telesurtv.net/english/news/Brazilian-Lawmaker-Says-Family-Allowance-Enslaves-Citizens-20180118-0009.html

Veja: Bolsa Família ‘escraviza’ beneficiários, diz Rodrigo Maia
Nos EUA, presidente da Câmara criticou programa por não criar ‘porta de saída’ aos beneficiários e admitiu ser candidato ao Planalto se subir nas pesquisas
>>> https://veja.abril.com.br/politica/bolsa-familia-escraviza-beneficiarios-diz-rodrigo-maia/

A Decisive Year in Brazil: Speaker Rodrigo Maia and Experts to Address Crucial Choices Facing the Country in 2018
>>> https://www.wilsoncenter.org/event/decisive-year-brazil-speaker-rodrigo-maia-and-experts-to-address-crucial-choices-facing-the

Folha de SP: Em NY, Maia nega candidatura e diz não crer em vitória de Lula ou Bolsonaro
>>>http://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1950438-em-ny-maia-nega-candidatura-e-diz-nao-crer-em-vitoria-de-lula-ou-bolsonaro.shtml

Por Jackson Vasconcelos

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Acabou o dinheiro. É hora da política.

(Folha de São Paulo, 14/01) – Clique para ampliar

“Contra falta de carisma, Alckmin recheia discursos com causos e piadas”, diz a Folha de São Paulo na edição de domingo (14), para mostrar a forma como o governador de SP se comunica com as plateias que visita. Thais Bilenki, autora da matéria, reproduziu os “causos” contados pelo governador na abertura e entremeios dos discursos. Boa técnica para tornar interessante o que ele diz.

A notícia indica duas mudanças importantes ocorridas nas campanhas eleitorais, desde a última eleição para prefeitos e vereadores, quando tirou-se do ambiente a dinheirama que fez das campanhas, durante muito tempo, obras de um marketing caro e pirotécnico, construído para dar corpo a propagandas, muitas vezes enganosas.

O pouco dinheiro cria uma nova agenda de trabalho, para levar com antecedência os candidatos para as ruas e mídias sociais, com a obrigação de, sem trejeitos, caras e bocas,  usarem corretamente a oratória, o discurso, num tête-à-tête com o eleitor. O novo modelo obriga os candidatos a serem criativos e apostarem mais nos dons pessoais do que nos dotes dos bens pagos marketeiros.

O resultado em votos do novo procedimento só saberemos no tempo certo das urnas e apurações, mas uma vantagem já se tem desde já: a política volta ao ambiente das campanhas eleitorais. Tomara que o novo modelo permaneça.

Por Jackson Vasconcelos

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Bolsonaro é Trump?

Tenho ouvido dizer por aí que Trump chegou à Presidência dos Estados Unidos com o mesmo impulso que se dá aqui ao Jair Bolsonaro, porque o mundo anda de braços dados com esse tipo de gente.

Mas, há uma questão não percebida pela turma: Trump chegou lá, porque a sociedade americana e o mundo todo subestimou as possibilidades dele. Deixaram o cara seguir sem ser incomodado. Os republicanos acreditaram que antes do dia derradeiro da última convenção, Trump cederia lugar aos concorrentes. Os democratas, por sua vez, preferiram não incomodar o processo, porque acreditaram que derrotariam Trump na disputa final.

Republicanos, democratas e a imprensa escolheram a estratégia errada.

Com Jair Bolsonaro dá-se o inverso. Ninguém mais o subestima e começa a valer a estratégia de pará-lo.

Isso quer dizer que Jair Bolsonaro não chegará lá? Não se sabe ainda, mas se chegar não será pelas razões que levaram Trump ao trono americano. Lá houve possibilidade de uma escolha melhor. Por aqui e por enquanto, não existe.

Aguardemos.   

Por Jackson Vasconcelos

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Huck, o Luciano, não “O Incrível”

Luciano Huck apareceu no palco do programa do Faustão, no último domingo. Chegou de mãos dadas com a esposa, a belíssima Angélica. Os dois entraram em cena como entram os candidatos à Casa Branca, no tempo das convenções partidárias. Luciano e Angélica jogaram no ar toda a força da imagem de uma família bem sucedida.  

Faustão anunciou com pompa: “No primeiro domingão do ano, eu tenho o orgulho, a honra, a alegria de apresentar dois dos meus melhores amigos, ao longo desses muitos anos de carreira. Pelo caráter, pela simpatia, pela afetuosidade… Essa amizade que começou há muito tempo e se solidificou  e envolve as duas famílias… Torço pelo sucesso deles na arte (gaguejou um pouco), na vida. Orgulhosamente, vem aí, Angélica e Luciano Huck!!!”.

O ambiente pegou fogo! Luciano olhou o relógio. O povo foi aberto com a imagem da família, com eles a falar dos filhos.

Em seguida, transcrevo um pouco o que disseram Faustão, Angélica e Luciano. Vocês, meus leitores, se chegarem até o final, poderão concluir com facilidade: o conteúdo da televisão são imagens e não palavras.

O Brasil político se movimentou inteiro com o fato do Luciano e Angélica aparecerem no Faustão, mas, seguramente, se tivéssemos feito uma pesquisa no curso ou depois da entrevista saberíamos que, certamente, ninguém lembrou, um segundo depois, o que falaram os três apresentadores.

A lição é simples: Se você, na TV ou no vídeo, nada tiver para dizer que crie um impacto positivo estupendo, diga qualquer coisa, que o público comprará pela imagem. Mas, tome o cuidado para não escorregar e dizer algo estupidamente escandaloso, porque isso poderá ficar. Enfim, na TV seja mormo se a sua imagem for forte isso é o que importará no final.

Deixo aqui um pouco do que disseram Faustão, Angélica e Luciano. Pode ser que você queira ler. Faustão sapecou: “Vocês começam o ano fazendo planos ou num mundo confuso como o de hoje não dá para fazer planos…”

Angélica respondeu com as manias e folclores do povo brasileiro: “Comecei pulando onda, comendo uva…”. Luciano emendou: “vestidos de branco”.

Angélica falou: “Tem o negócio de calcinha colorida. Tem tudo…”.

Luciano mal começou a falar e o público aplaudiu de pé. O papo correu. Faustão colocou no papo a Copa do Mundo e eleição…

“Aí sim, o povo tem que se transformar numa torcida para o bem do país. Porque quanto mais dividido o país, melhor para meia-dúzia de ladrões…”. Angélica entrou…”É isso aí. Eu quero um mundo melhor para os meus filhos. Quero um Brasil melhor para os meus filhos. Eu acho que todo mundo aqui quer”. Faustão completou: “Todo mundo paga imposto”.

Angélica continuou: “Por isso todo mundo tem o direito de querer tudo isso. E você, Faustão, falou uma coisa incrível, sem ficar dividindo nada. Nós somos uma coisa só. Não tem essa história de um de outro, de partido, não! O brasileiro é brasileiro. Ele merece uma coisa melhor. Tem um país lindo. Nós temos um país lindo”.

Faustão pulou para Luciano Huck. “Luciano vive envolvido com as causas sociais….”. E vira-se para o Luciano: “Você acredita no Brasil?”. Ele respondeu:

“Fausto é uma pergunta bem complexa. A gente tem que acreditar. Este último ano eu fui até dragado para uma discussão, para pensar que possibilidades a gente tem concretas para o Brasil este ano…E eu me propus colocar um pouco a cara na rua e tentar mobilizar a minha geração, para saber quem são as pessoas que estão a fim, de fato, de chegar perto da política. Porque hoje em dia, você tem…a sociedade como um todo ficou envergonhada da classe política…

E seguiu…

“As pessoas precisam enxergar a política como o único caminho para você transformar a realidade… Eu fui até tragado para uma discussão, que não levantei a mão. Mas, me propus colocar um pouco a minha cara na rua e tentar mobilizar a minha geração. Quem são as pessoas que estão a fim, de fato, de chegar perto da política? Hoje em dia você tem a sociedade como um todo com vergonha da política… Todo mundo tem que enxergar a política como o único caminho pra você transformar. Então, eu acho que a gente tem que aproveitar essa fratura exposta, que aconteceu no Brasil nestes dois anos, de derretimento da classe política, pra gente ocupar esse espaço, dar novo significado às coisas e tentar, de fato, botar um pouco de ética, de altruísmo, de coisas boas, de gente boa. E engraçado no Brasil a palavra servir não tem significado. Aqui só se serve água. O servir tem que ser de verdade. O nosso papel aqui é de que as pessoas saibam que o voto é o melhor jeito, o único jeito da gente transformar. O que acontece? Quando você vê essa crise começa a ver gente que diz que tem que voltar a ditadura. Outro quer… não existe isso. A democracia é feita para melhorar a vida das pessoas. E a gente tem a nossa arma, que a gente tem pra agarrar com unhas e dentes…”.

Por Jackson Vasconcelos

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Trabuzana!

Que diabos significa trabuzana? Os dicionários esclarecerem que se trata de uma expressão popular, feminina, com o significado de agitação violenta, de tormenta, tempestade. E também, maçada, chatice, melancolia. Trabuzana tem, então, boa serventia para explicar o fenômeno criado pela mistura de quatro elementos: Roberto Jefferson, Cristiane Brasil, Temer e PTB.

Roberto aceitou do Presidente Michel Temer, depois de ouvir a filha, o convite para que ela assuma a vaga de Ministro do Trabalho. Fez isso, em nome do PTB. Mas, Cristiane Brasil tem problemas com a Justiça Trabalhista e, certamente, sabia disso no momento do convite. Deveria, portanto, tê-lo evitado. Aos olhos da população seria um gesto nobre e, no íntimo, um movimento tático inteligente para não ficar exposta às tempestades que, com certeza, viriam após o convite. Uma tormenta que levaria de roldão Temer e o PTB.

Contudo, Cristiane Brasil aceitou. Trabuzana!

O tempo fechou, para Jefferson, para a filha, para Temer e para o PTB. Com o povo, nós, que pagamos a conta, o lado chato, maçante, de uma ópera que parece não acabar.  

Para evitar situações de grave prejuízo para a imagem dos políticos, existe a estratégia, uma ferramenta de excepcional valor, que antecipa cenários, organizar movimentos e manter no rumo certo os projetos que precisam ser vitoriosos.

Ah, se Roberto, Cristiane, Temer e o PTB trabalhassem com estratégia! Eles e o Brasil todo estaria dispensado de viver mais uma lástima.

Por Jackson Vasconcelos