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A intervenção

É impossível elaborar a estratégia correta para uma campanha se a leitura dos movimentos da política for incorreta. Há uma eleição a caminho para presidente, governadores, senadores e deputados. Sabe-se que a pauta principal de campanha no Estado do Rio de Janeiro será a segurança pública.

Sabe-se, também, que o partido do presidente da República anda em maus lençóis no estado, mas está no comando dele desde 1998, com os mesmos rostos, o mesmo método de fazer política e o mesmo modelo de governar. E, para azar maior do presidente e do partido dele, percebe-se que há na população local, desejo de mudança.

Moreira Franco, o verdadeiro interventor

O presidente e o partido dele resolveram, então, agir. O pavor da população com a insegurança deu o sinal. O presidente da República, então, resolveu decretar intervenção no estado. Mas, como o governador do seu partido e o nome que ele teria para substituí-lo tomariam muita pancada da imprensa, o presidente entendeu que na segurança pública a intervenção seria manifesta. Nos demais braços administrativos do estado, seria “branca”. 

Michel Temer entregou a segurança pública a um general e o resto ao interventor “camuflado”, Wellington Moreira Franco.

Michel Temer aposta que o eleitor do Rio de Janeiro dará a ele o crédito pelos resultados positivos da intervenção e ao seu partido, o voto, esquecendo-se, por alguns momentos – os suficientes para entrar na cabine eleitoral e votar – que o PMDB foi o grande autor do desastre.

Resta saber se o contraponto terá a veemência e a direção correta, para impedir que Michel Temer saia dessa com uma vitória.

Por Jackson Vasconcelos

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“Mais vale uma imagem na mão, do que…”

Sábado, dia 17 de fevereiro, comentei no facebook as fotos que ilustraram as notícias da intervenção do governo federal no estado do Rio de Janeiro no jornal O Globo. Minha intenção foi dar provas de que as imagens falam mais do que as palavras, um fato importante a considerar, quando se traça estratégias para projetos políticos. A minha leitura se confirma a cada nova notícia que vem de Brasília.

Identifiquei, por exemplo, o mau humor do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Ontem, dia 21, confirmei o fato ao ler o Valor Econômico: “Em um duro recado ao presidente Michel Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) chamou ontem de “desrespeito”, “equívoco”e “meio sem sentido” a apresentação da lista de 15 projetos, que se tornaram prioridade para o governo no Congresso após a retirada da reforma da Previdência”.

Matéria do Valor Econômico de 21/02. Clique para ampliar.

A imprensa tem demonstrado também desencontros de informações e teses entre os ministros da Defesa e da Justiça. O que tem tido o general Interventor muitas vezes também não bate com o que diz o resto do governo.

Enfim, o desenrolar dos acontecimentos em torno da intervenção confirma: “as imagens dizem mais do que as palavras, sempre”.  

Por Jackson Vasconcelos

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Jair, o professor. Lauro, o mau aluno.

A gente sabe que não é nada fácil a vida dos jornalistas neste mundo novo, onde existem as mídias sociais e ninguém precisa ser refém da imprensa tradicional. Os políticos, vítimas preferenciais da mídia tradicional, começam a descobrir um caminho para trocar de posição com os jornalistas.

Durante o carnaval, o jornalista Lauro Jardim viu como é complicado fazer política e jornalismo ao mesmo tempo com mídia social à disposição de todos.

Lauro Jardim publicou sobre Jair Bolsonaro:

“Jair Bolsonaro deu a sua receita para resolver a guerra da Rocinha, num grande evento promovido na semana passada pelo BTG Pactual. Uma solução simples — e idiota. A uma plateia de mil executivos do mercado financeiro, Bolsonaro disse que mandaria um helicóptero derramar milhares de folhetos sobre a favela, avisando que daria um prazo de seis horas para os bandidos se entregarem. Findo este tempo, se a bandidagem continuasse escondida, metralharia a Rocinha. Sinal dos tempos, foi aplaudido pelo público”.

Lauro publicou a notícia. Jair Bolsonaro reagiu. Lauro publicou a informação prestada pelo Jair Bolsonaro, mas como atualização da nota, assim, com certo desdém.

Jair postou um vídeo que, convincente, trouxe para a trincheira dele um jornalista que tem o peso do Lauro Jardim, o Alexandre Garcia. Jair usou a imagem e a voz do Alexandre Garcia a favor dele.

Novos tempos na comunicação política.

Por Jackson Vasconcelos

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Como vencer no campo do adversário?

Gonzaguinha criou Geraldino e Arquibaldos e lá está uma lição de estratégia, que foi aplicada no período em que Indio da Costa foi secretário de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação da Prefeitura do Rio, na administração do adversário dele no primeiro turno da campanha para prefeito.

“No campo do adversário é bom jogar com muita calma procurando pela brecha pra poder ganhar”.

Por história política e pessoal e perfil dos eleitores de cada um, Indio da Costa e Marcelo Crivella sempre estiveram em campos opostos. Mas, no segundo turno da campanha de 2016, Indio apoiou Marcelo Crivella e depois aceitou dele o convite para ser secretário, da principal secretaria.

Naturalmente, os aliados do prefeito e assessores mais próximos olharam a decisão com desconfiança e desde o primeiro momento, tentaram demarcar o terreno pelas diferenças.

Indio da Costa chegou com muita calma e sendo candidato na eleição seguinte para governador, ele precisava encontrar as brechas na administração do Crivella pra poder ganhar. Encontrou várias, mas a principal foi conquistar a equipe do Crivella, vencer as resistências e unir a esses passos ações administrativas concretas, também num campo adversário: imprensa Globo.

Indio conseguiu.

Por Jackson Vasconcelos

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Pesquisas em terra de cegos

Hoje, último dia de janeiro do ano da eleição, dez meses antes do dia da decisão, o Datafolha publicou nova pesquisa. O resultado está resumido na capa da Folha de São Paulo: “Sem Lula, Bolsonaro lidera e quatro disputam o 2º lugar”. Que sentido faz isso? Pra que serve? Se Lula não for candidato, quem será pelo PT? Quem for, com o apoio do Lula, fará diferença? Mas, para responder essa questão, a pesquisa mostra a distribuição dos votos do Lula entre os demais candidatos “definidos” e os votos brancos e nulos. A manchete interna do jornal é “Em cenário sem petista, índice dos que não tem candidato chega a 3%”. Outra informação sem sentido.

Sempre que leio os comentários e manchetes sobre pesquisas eleitorais me pergunto de que ângulo o cego está apalpando o elefante, para entender o sentido do que ele informa. Essa história de cegos e elefantes me veio com a leitura preciosa da obra “O Mistério do Capital – Por que o capitalismo dá certo nos países desenvolvidos e fracassa no resto do mundo”. Escreveu-a o economista e político peruano, Hernando de Soto. Obra prima.

Sobre elefantes e cegos, diz Hernando: “Muitos de nós somos como os cegos na presença do elefante: Um segura a tromba ondulante do animal e pensa que o elefante é uma cobra; outro encontra sua cauda e pensa que o elefante é uma corda; um terceiro fica fascinado pelas enormes orelhas em forma de vela; outro abraça suas pernas e conclui que o elefante é uma árvore. Nenhum examina o elefante em sua totalidade, e consequentemente não conseguem formular uma estratégia para lidar com esse problema de tão grande porte em suas mãos”.

Assim, agem os comentaristas de pesquisas, olhando, cada um, para seus próprios interesses, suas paixões e preferências. A imprensa, por exemplo, precisa das pesquisas para criar manchetes espalhafatosas. Estamos há bastante tempo com manchetes de Lula e Bolsonaro favoritos na eleição para presidente, quando a experiência indica que isso pode não durar.

O importante para a imprensa é: As manchetes da Folha, certamente, venderam hoje mais jornal e audiência. Isso durará o dia todo para atravessar a noite, nos diversos telejornais. Afinal, nesses tempos duros, que Mário Vargas Llosa define numa grande obra como “A Civilização do Espetáculo”, como ele diz, há a quantidade em detrimento da qualidade.

Logo abaixo da análise da pesquisa, a Folha dá notícias de um curso para formar políticos, o Renova BR. Tem gente importante na sala de aula, por exemplo, Fred Luz, CEO do Flamengo, que eu conheço e respeito muito. Ele está com muita vontade de entender como a política funciona. A pesquisa Datafolha e os absurdos que ela informa podem ser úteis ao Fred e a todos os alunos do curso.

Por Jackson Vasconcelos

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É o jeitão dele…. Só isso

Aplaudi a análise que faz a Adriana Carranca sobre o primeiro ano do Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos. Ela mostra que tudo o que diz e faz o Presidente está em linha, em identidade perfeita, com o que pensa o partido dele. Mas, quem ouve Donald Trump, lê e vê o que ele faz, é levado a acreditar que o cara é inédito. Tudo porque ele diz e faz com um jeito só dele, histriônico, que causa desconforto em quem o rejeita e frisson em quem gosta dele.  

“O lado bom de Trump”, de Adriana Carranca

Donald Trump, diante do texto da Adriana Carranca, é a melhor demonstração de que um político para ter sucesso precisa ser, antes de tudo, um ator, que vocaliza com força o que pensa e tem a mímica correta para o escândalo ou surpresa que queira causar.

Por Jackson Vasconcelos

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Moreira Franco sabe, mas não diz

Moreira Franco, hoje Ministro de Estado, conversou com os gigantes do Valor Econômico, Claudia Safatle e Raymundo Costa. Conversa longa, que o jornal publicou na última quinta, 18. Moreira fez análise das relações do Poder Judiciário com o Poder Executivo e do modo como se faz a relação do Poder Executivo com o Poder Legislativo.

Moreira firma posições para a relação entre o Judiciário e o Executivo, que podem ser resumidas no conceito de abuso de poder. Para o segundo caso, Moreira oferece a exaustão: “O modelo político atual está exaurido”. Ele se refere às negociações com base na distribuição de cargos.

Há, de fato, abuso de poder na relação do Judiciário com o Executivo, caso bem exemplificado, pela suspensão da posse da deputada Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho. Mas, é abuso de poder justificado pela falta de legitimidade do Executivo. O governo Temer está sustentado na legalidade, exclusivamente. Deixou de ser legítimo, quando 80%, quase 90%, dos eleitores não o apoiam.

E, é também verdade que o modelo político está exaurido e faz tempo, mas não está morto, justificado pelo mesmo motivo: falta ao governo Temer legitimidade para enfrentar as propostas indecorosas dos partidos.

Estamos, então, diante de uma situação política concreta: para colocar ordem na casa será preciso passar pelo processo purificador de uma eleição que dê ao Brasil governos legítimos, governos que tenham autoridade moral na legitimidade para enfrentar abusos de poder e esculacho nas negociações políticas.

Por Jackson Vasconcelos

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Rodrigo Maia ensina estratégia…

Aconteceu no Brazil Institute, mas poderia ter acontecido em qualquer outro ponto de Washington e o significado político seria o mesmo, porque a cidade é símbolo de um povo que tem a exata dimensão do papel do Estado e do que é cidadania. Eis o palco escolhido pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para marcar posição no arco ideológico que, até ele falar, muita gente não percebia existir.

Rodrigo Maia escolheu a estratégia correta. No lugar melhor, Washington, fez o discurso certo, contra o Estado que dá esmolas para manter a dependência dos pobres e, por isso, barra o caminho do empreendedor e do trabalho que dá cidadania  e no pior momento para o dono do discurso de dependência, quase véspera do julgamento do Lula, com repercussão nacional.

Quem olhar com os olhos de um estrategista as notícias divulgadas pela imprensa daqui e do mundo, concordará que Rodrigo Maia fez ótimo uso da ferramenta.

 

 

O Globo: Maia afirma que Bolsa Família ‘escraviza’ as pessoas
Presidente da Cämara dos Deputados afirma em Washington que o ideal é a geração de empregos
>>> https://oglobo.globo.com/brasil/maia-afirma-que-bolsa-familia-escraviza-as-pessoas-22296779

Brazilian Lawmaker Says Family Allowance ‘Enslaves’ Citizens
>>> https://www.telesurtv.net/english/news/Brazilian-Lawmaker-Says-Family-Allowance-Enslaves-Citizens-20180118-0009.html

Veja: Bolsa Família ‘escraviza’ beneficiários, diz Rodrigo Maia
Nos EUA, presidente da Câmara criticou programa por não criar ‘porta de saída’ aos beneficiários e admitiu ser candidato ao Planalto se subir nas pesquisas
>>> https://veja.abril.com.br/politica/bolsa-familia-escraviza-beneficiarios-diz-rodrigo-maia/

A Decisive Year in Brazil: Speaker Rodrigo Maia and Experts to Address Crucial Choices Facing the Country in 2018
>>> https://www.wilsoncenter.org/event/decisive-year-brazil-speaker-rodrigo-maia-and-experts-to-address-crucial-choices-facing-the

Folha de SP: Em NY, Maia nega candidatura e diz não crer em vitória de Lula ou Bolsonaro
>>>http://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1950438-em-ny-maia-nega-candidatura-e-diz-nao-crer-em-vitoria-de-lula-ou-bolsonaro.shtml

Por Jackson Vasconcelos

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Acabou o dinheiro. É hora da política.

(Folha de São Paulo, 14/01) – Clique para ampliar

“Contra falta de carisma, Alckmin recheia discursos com causos e piadas”, diz a Folha de São Paulo na edição de domingo (14), para mostrar a forma como o governador de SP se comunica com as plateias que visita. Thais Bilenki, autora da matéria, reproduziu os “causos” contados pelo governador na abertura e entremeios dos discursos. Boa técnica para tornar interessante o que ele diz.

A notícia indica duas mudanças importantes ocorridas nas campanhas eleitorais, desde a última eleição para prefeitos e vereadores, quando tirou-se do ambiente a dinheirama que fez das campanhas, durante muito tempo, obras de um marketing caro e pirotécnico, construído para dar corpo a propagandas, muitas vezes enganosas.

O pouco dinheiro cria uma nova agenda de trabalho, para levar com antecedência os candidatos para as ruas e mídias sociais, com a obrigação de, sem trejeitos, caras e bocas,  usarem corretamente a oratória, o discurso, num tête-à-tête com o eleitor. O novo modelo obriga os candidatos a serem criativos e apostarem mais nos dons pessoais do que nos dotes dos bens pagos marketeiros.

O resultado em votos do novo procedimento só saberemos no tempo certo das urnas e apurações, mas uma vantagem já se tem desde já: a política volta ao ambiente das campanhas eleitorais. Tomara que o novo modelo permaneça.

Por Jackson Vasconcelos