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Que treco é esse?

A edição de dezembro da revista Exame comentou as “23 ideias para 2023. Na 11a posição está “o dilema do engajamento” e surge os termos em inglês, quiet quitting e quiet quitter. A matéria explica: “Se houvesse um dicionário Oxford sobre a área de recursos humanos, muito provavelmente a palavra do ano seria quiet quitting. O termo, que traduzido do inglês significa “demissão silenciosa” e etc…

Ao fim da matéria há a receita para o quiet quitting, onde o ambiente de trabalho tóxico representa 66% dos motivos de desmotivação de quem trabalha nas empresas. A insatisfação salarial segue depois com 43% e a falta de perspectiva de crescimento com 40%. O assédio moral ou sexual responde por 30%. Há ainda a liderança ruim, o volume de trabalho excessivo e metas irreais como causa da desmotivação. 

O estudo está amarrado no setor privado. Que tal buscar as causas da desmotivação no setor público? O quiet quitting e aproveitar para saber quem está desmotivado? A minha experiência com essa área durante muitos anos me dá segurança para arriscar que a falta de perspectiva de crescimento e assédio estarão no topo do lista, provocados pela existência dos cargos de confiança que premiam bajuladores e sacrificam quem não está disposto a puxar o saco dos chefes políticos. 

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As evidências na posse do Lula.

O povo brasileiro votou nove vezes nos candidatos à Presidência da República após 1964 e depois de 1988, ano em que foi promulgada metade da Constituição em vigor. A  outra metade sofreu remendos. Das nove vezes que votou, o povo elegeu três vezes o Lula e duas vezes a Dilma Rousseff indicada por ele. Portanto, se pudesse ter sido candidato mais vezes, Lula teria sido eleito não três, mas cinco vezes num conjunto de nove disputas. Ou seja, na maioria das vezes. Está claro, que o povo gosta do Lula e de tudo aquilo que ele representa, como gostou de Getúlio Vargas e de tudo o que ele representou. 

Vargas e Lula não representam um Estado interventor, mas o Estado incorporado neles, o que os torna absolutos senhores do destino de uma nação. E não importa o que eles defendem. Ao povo só interessa que seja Lula como foi Vargas mesmo depois de, com um ato covarde, tirar a própria vida e Lula com um ato de coragem voltar para as ruas. 

Há como fazer o povo mudar de opinião? Esse é o desafio posto para aqueles que sabem que Lula é somente Lula e as circunstâncias que ele mesmo cria, as piores circunstâncias  na vida econômica de um povo. Lula finge não saber ou não sabe – o que dá no mesmo – que jamais haverá bens e dinheiro suficiente no mundo para satisfazer todas as vontades do povo e todos os caprichos da elite que o governa. 

Lula, como todo ser vivo, não viverá eternamente. O que será do povo brasileiro após Lula? Será o que tem sido a Argentina após Perón e o Brasil após Vargas.  Afinal, o fato de muitos políticos de sucesso mentirem significa que eles sabem que o povo adora acreditar no impossível. Aprendi isso com Thomas Sowell, um professor dono de um talento quase singular entre os liberais: sintetizar o que parece ser complicado com frases de fácil compreensão. Como Thomas Sowell é único, e liberais complicadores são muitos, principalmente, quando somados aos liberais de mentirinha, o povo brasileiro ainda não conseguiu ouvir quem seja capaz de abrir-lhe os olhos para uma questão óbvia: para se ter o que usar é preciso existir quem produz o que será usado. 

Nos dois discursos de posse do Lula para o terceiro mandato, quase nada há de diferente dos discursos que ele fez para as outras posses, tendo-se presente o fato de que o primeiro foi gerado há 20 anos e o segundo há 17. O Brasil contraria Cazuza, pois aqui o tempo pára. 

Volto a Thomas Sowell: “Não é porque os homens promulgaram Leis que a Personalidade, a Liberdade e a Propriedade existem. Pelo contrário, é porque a Personalidade, a Liberdade e a Propriedade preexistem que os homens fazem as leis”.  Os discursos do Lula evidenciam que ele acredita, com convicção, que a Personalidade, a Liberdade e a Propriedade existem porque ele as deseja como um paizão para o povo que ele, com as decisões, escraviza. 

Lula é o mesmo, pois o povo é o mesmo e as circunstâncias dele permanecem as mesmas.  “Ah! miseráveis, vocês se acham tão grandes, e julgam a humanidade tão pequena que querem reformar tudo. Reformem-se a si mesmos, essa tarefa lhes basta!”. ( A LEI, Thomas Sowell). 

Se for possível, sejamos felizes em 2023, 2024, 2025 3 2026! 

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Mais uma oportunidade perdida.

Jair Bolsonaro fez a última live como Presidente da República. Eu assisti com atenção e vi que ele perdeu mais uma oportunidade para passar para a História como o melhor presidente depois de Juscelino Kubistchek. Jair Bolsonaro estava acabrunhado, meio perdido, um tanto sofrido e cheio de lamentações. 

Oportunidade é um conceito da estratégia, mas Jair Bolsonaro não gosta das oportunidades. Pelo menos parece não gostar muito e, no último pronunciamento dele como presidente, mostrou isso. O Presidente fez bem em não reconhecer a vitória do adversário, pois ela não nasceu de uma disputa digna e legítima. Lula, sequer fez campanha, pois as instituições fizeram por ele, movidas pelo ódio. A Justiça Eleitoral não impôs limites às campanhas dos adversários do Bolsonaro, mas colocou no caminho dele todos os obstáculos que pode. Viu-se, na prática, o exercício estendido do velho ditado: “Aos amigos tudo, aos inimigos bem mais do que a lei”. Mas, é jogo jogado e Jair Bolsonaro deveria ter aproveitado a última palavra como Presidente para anunciar que será o tradutor das vozes das ruas no exercício de uma oposição feroz ao novo governo. 

O Presidente poderia ter lembrado o dia da posse dele, quando o mundo todo ouviu a jovem senhora Michelle Bolsonaro fazer um discurso belíssimo em libras, para anunciar que se teria um governo humano. Seria um contraste enorme com a orgia que faria Lula sob a batuta de Janja. 

Jair Bolsonaro perdeu a oportunidade de agradecer aos eleitores dele os votos que elegeram seus aliados: Sérgio Moro, Tereza Cristina, General Mourão, Tarcísio, Cláudio Castro e outros tantos. A esposa, companheira desde a primeira hora e durante toda a campanha e os filhos, deveriam estar presentes na live. 

Pena que nada disso aconteceu. Então, Juscelino permanece como o maior Presidente da República entre todos, ombreando-se com as melhores lideranças políticas do mundo. 

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A imprensa, essa coisa absurda.

Uma semana antes do  segundo turno na eleição de 2022 para presidente, a Federação Nacional dos Jornalistas, FENAJ, distribuiu uma nota, que chamou de Carta Aberta aos jornalistas e ao povo brasileiro, para pedir votos para Lula. Com o título, “Eleger Lula para resgatar a democracia e os direitos da classe trabalhadora”, a FENAJ contorceu-se em frases de efeito para entregar um panfleto eleitoral em defesa da reserva de mercado para os jornalistas e a favor da permanência da Empresa Brasileira de Comunicação, EBC, que pertence ao governo federal e onde há cargos de confiança aos montes para jornalistas que desejam ganhar bem e gozar das regalias que os agentes do Estado Brasileiro gostam. 

Quando a Carta Aberta chegou ao distinto público, eu encerrava a leitura do livro,  “O Brasil” do jornalista Mino Carta e separei passagens do livro do Mino, que dizem sobre o que é e o que deveria ser a imprensa. Mino Carta conta: “A memória recua e me leva de avião a Nova York, ali faria meu primeiro estágio na Time-Life a mando da Abril em companhia do meu irmão, diretor editorial da empresa e diretor de redação da mensal Claudia, que havia fundado em 61. A bordo leio um texto escrito anos antes por um diretor do New York Times. Não peça ao profissional que ele seja objetivo, escrevia, por mais que se esforce será sempre subjetivo, ou seja ele mesmo, até ao depositar uma vírgula ao meio de um período. Peça, isto sim, que seja honesto ao informar seus leitores…” A Carta da Fenaj não é honesta, pois diz defender a candidatura do Lula para resgatar a democracia”. Nem é preciso ir longe para contestar, porque o fato de a FENAJ defender o voto no Lula ou em qualquer um que fosse demonstra que a democracia brasileira está por aqui ainda e, portanto, não precisa ser resgatada. A FENAJ diz também que o voto no Lula representa o resgate dos direitos da classe trabalhadora. Quais eles perderam em razão do governo Bolsonaro? Rigorosamente, nenhum, lamentavelmente. O Brasil está dividido entre os que trabalham com carteira profissional assinada. É isso que a FENAJ chama de direitos. E há os que trabalham sem carteira profissional, seja por preferirem assim, seja pelo fato de não sendo assim não existir emprego. Existem os que pagam os salários e direitos trabalhistas. Esses para a FENAJ, Lula e companhia não importam. Que se virem. Ora vejam. Se estes deixarem de existir, aqueles morrerão de fome, sem emprego e sem direitos trabalhistas. Certo? E quanto ao fato de Jair Bolsonaro ser um risco para a democracia, quem assim vê o caso deveria conhecer a peça de Shakespeare, Júlio César. O cara foi morto porque disseram que ele desejava ser imperador, quando ele não aceitou o convite feito três vezes a ele. Seus inimigos precisavam do argumento para se livrarem dele. 

Mas, fiquemos com Mino Carta. Vejamos os três princípios básicos traçados por ele para o jornalismo: “O jornalismo há de obedecer a três princípios básicos: a) fidelidade canina à verdade factual”. O conceito de verdade factual Mino Carta buscou na obra de Hannah Arendt. Verdade factual é a verdade incontestável e Mino exemplifica: ‘É como dizer que me chamo Mino “. b) “o exercício desabrido do espírito crítico” e c) “fiscalização destemida do poder onde quer que ele se manifeste”. 

Mino encerra: “Sobrou o desalento, inclusive a respeito do jornalismo brasileiro, cada vez mais medíocre, primário na técnica, uniforme na análise reacionária, provinciano até o ridículo, ancorado no pensamento único incapaz de uma percepção contemporânea do mundo, e mesmo assim arrogante, jactancioso, exibido(…). A mídia brasileira é única a seu modo, não conheço outra igual, e para entender o motivo da primazia basta observar que o profissional, o empregado, chama o patrão de colega”.  

Sobre a tal carta aberta, não preciso dizer mais. 

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Parlamentarismo, oportunidade perdida.

O dia 31 de outubro de 1987 caiu um sábado, mas mesmo sendo sábado, a Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte inseriu o parlamentarismo no projeto de constituição com o voto da maioria dos seus membros. 

O texto aprovado não deixou espaço para a regulamentação, pois definiu com clareza o modo como o novo sistema funcionaria, instituindo, inclusive, o “gabinete fantasma” – “Shadow Cabinet”, na língua e na cultura dos ingleses. Ele estava previsto no parágrafo 2o do art. 113 – “O líder da oposição e o colégio de seus vice-líderes autorizados a responder pelos assuntos correspondentes às pastas ministeriais existentes, gozarão, no que couber, na forma regimental, de tratamento compatível com o concedido em lei ao primeiro-ministro e aos demais membros do Conselho de Ministros.”

Quando a matéria chegou ao plenário, os presidencialistas empurraram os parlamentaristas para um acordo, que previa um plebiscito para a implantação do novo sistema. A Constituição entrou em vigor em 1988, mas o plebiscito só aconteceu em 1993, com uma campanha que foi esquisita pois colocou diante do povo brasileiro a alternativa de uma monarquia parlamentarista no lugar de uma república presidencialista, como se não fosse possível ter uma república parlamentarista. 

A campanha na TV contou com Cissa Guimarães à frente de uma animação onde nuvens carregadas com chuvas e raios sobrevoava o mapa do Brasil. Ela está disponível no youtube: https://youtu.be/WoRoMKU0p0U

Até hoje padecemos com uma Constituição que não é parlamentarista nem é presidencialista e menos ainda uma mistura bem feita das duas coisas. Criou-se um monstrengo, que já carrega quase 200 remendos. Em 1988 perdemos a oportunidade de ter um sistema de governo que organizasse o país e repetimos o erro em 1993. Hoje somos um presidencialismo puramente retórico. 

Para quem tenha a curiosidade de conhecer o texto aprovado na Comissão de Sistematização, ele será encontrado no endereço www2.senado.leg.br que expõe uma matéria do Jornal de Brasília, edição de 01.11.1987, encabeçado com o título: “Comissão fortalece poder do Primeiro-Ministro.” Vale como documento histórico, porque nela está a menção ainda primitiva ao que hoje se chama “Centrão”, naqueles dias, conhecido como “direita ou centro-direita”, como está dito na matéria assinada pelo Rubem Azevedo Lima – “Centristas já garantem ter 291 votantes”. 

O jornal dá destaque à uma declaração do Presidente da Constituinte, deputado federal, Ulysses Guimarães, que rebate o boato sobre a intenção do Presidente da República, na época, José Sarney, de convocar uma eleição direta para presidente se o parlamentarismo fosse vitorioso. 

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Armas, elas são o problema.

Assisti todas as entrevistas e todos os debates ocorridos durante a campanha para o governo do Estado do Rio de Janeiro. Cinco candidatos disputaram, mas quatro foram relevantes: Claudio Castro, Marcelo Freixo, Rodrigo Neves e Paulo Ganime. Dois foram competitivos, mas não houve segundo turno, pois Cláudio Castro venceu com uma vantagem grande sobre o segundo lugar, Marcelo Freixo. 

A Segurança Pública foi pauta importante como sempre foi e, também como sempre aconteceu, tivemos diagnósticos demais e propostas em desalinho com eles. Repetiu-se a velha lenga-lenga do combate ao crime com inteligência e com uma política pública para a educação, para que o Estado concorra com o crime na conquista das crianças e dos jovens. Sempre o mais do mesmo. 

Vamos combinar? Onde está o problema? Nas armas em poder dos criminosos. Não lhe parece? Por que morrem policiais e gente inocente quando a polícia aparece nas comunidades? Porque os criminosos estão armados e andam armados livremente em todas as comunidades. 

Concorrer com o crime? Brizola dizia isso, mas nunca disse o essencial: acabar com o crime. Será que o Estado Brasileiro, com as forças policiais que tem, com as Forças Armadas, com Polícia Federal e todo o aparato de investimento não tem mesmo como evitar as armas? Por que será que nenhum candidato apresenta uma proposta concreta, um compromisso definitivo com o combate às armas? 

Será mesmo impossível ao apreender as armas descobrir como elas chegaram às mãos dos criminosos? Com quem eles obtêm as armas? Como pagam por elas? A quem entregam o dinheiro? O que é feito com as armas apreendidas? Há uma forma de a população ter conhecimento do destino dessas armas? Nenhum candidato toca nesse problema. 

O blá,blá,blá é sempre o mesmo: qualificação das polícias, remuneração melhor para os policiais, mais policiais nas ruas e etc . Combate às armas? Isso não e por ser não, o Presidente da República eleito em 2018, Jair Bolsonaro, carregou na pauta a liberdade para o uso de armas, uma providência que, segundo ele, ajudaria a população a combater o crime sem precisar da polícia ou da Justiça. 

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O povo em torno dos quartéis.

Em 1964, o povo pediu que o Exército Brasileiro assumisse as rédeas do governo, para substituir um presidente eleito. Os generais atenderam e, por óbvio, compreenderam que foram chamados porque o povo não soube escolher. Eles tiraram do povo, então, a prerrogativa da escolha. Primeiro, dos presidentes, depois dos governadores e em seguida dos prefeitos das capitais e de outras cidades escolhidas a dedo. Algo assim: “vocês escolheram Jânio e Jango. Eles não deram certo, vocês pediram que a gente assumisse, nós assumimos e a partir de agora, nós escolhemos.” O povo se aborreceu e quis de volta a prerrogativa para escolher. 

Depois, tivemos oito eleições para a Presidência da República. Lula venceu três, mas quem não gostou do resultado foi bater de volta na porta dos generais. Mas, “um bom general”, dizia, Polybius, o grego, “não enxerga apenas o caminho para a vitória; ele também sabe quando a vitória é impossível”. Ainda bem. Caso não soubessem já teriam entrado numa nova aventura, para curar a dor de cotovelo de metade do povo brasileiro. Quem não queria o resultado, que ajudasse a evitá-lo. Agora, já era. 

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Para cada ditador, pelo menos um covarde.

Quando observo a experiência das nações com a ditadura, concluo que para existir um ditador é essencial, extremamente necessário que exista pelo menos um covarde, pois os ditadores não cumprem ordens nem da própria consciência. 

Sadam Hussein, Hitler, Chavez, Fidel, Geisel, Médici conseguiriam ser o que foram sem contar com uma porção de covardes que cumprissem as ordens deles? Eles mesmos, sozinhos, teriam força para colocar alguém nas cadeias, torturar, matar, silenciar ou exilar? Com certeza, não. Então, quando se deseja acabar com uma ditadura ou se demite o ditador ou seus obedientes covardes, concorda? 

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“DIGA AO POVO QUE MARCHE”.

“Diga ao povo que marche!”

Domingo será o dia da decisão sobre quem estará na Presidência da República nos próximos quatro anos, para administrar um governo que está colocado sobre um território que tem mais de oito milhões de quilômetros quadrados, a quinta maior extensão territorial do planeta. Um lugar onde habitam 215 milhões, 278 mil e 233 pessoas, um número que, por óbvio, aumenta a cada momento, porque se sabe que nasce mais gente do que morre a cada dia. 

Cada uma dessas pessoas influencia a vida de todas as demais. Quem acredite que isso seja um exagero, ou, por egoísmo, previra fugir do assunto, que lembre da pandemia, um troço que apareceu na China e alcançou pessoas no mundo todo. E que lembre também que no meio da confusão criada pelo vírus, alguém parou para encontrar a solução e nisso está o segredo da sobrevivência da humanidade na Terra.  Então, o seu voto, no domingo, terá influência direta sobre a vida de mais de duzentos milhões de pessoas. O voto não é um ato egoísta. 

Quando a gente olha o Brasil com base nos números, consegue entender o poder que tem um presidente por aqui. Então, escolher com responsabilidade não é um só um ato de confirmação de apreço por um e ódio ou antipatia pelo outro. Tem mais coisa em jogo. 

O Brasil é nossa casa, é o nosso lugar. É a nossa pátria! Aqui convivemos com nossa gente, falamos uma só língua e quem deseje saber o valor que isso tem, olhe para os povos que fogem de seus lugares, porque neles se tornaram escravos dos governos e sempre com a promessa dos governos de lhes darem uma vida maravilhosa. 

Neste momento, dois candidatos disputam a vaga de Presidente do Brasil e eles também não nos ajudam a decidir, porque o que dizem está coberto por interesses pessoais e de seus grupos. Que encruzilhada! Mas, nas encruzilhadas, duas alternativas se colocam: seguir em frente ou voltar. 

Existe um GPS antigo, bem antigo, à disposição de toda a humanidade para os momentos em que ela precisa tomar decisões. Um GPS que mostra, a partir da história dos povos, que todo sacrifício vale a pena para se viver num território que é nosso com um povo que é o nosso e com governos constituídos por nós. 

Houve um povo que se sentia bem, muito bem, numa terra que não era a sua e submetido a um governo que não foi escolhido por ele e dado a ele como se tivesse sido selecionado por um deus qualquer, um deus que também não era o dele. Até que descobriu que esse governo que não era o de sua escolha estava, na verdade, escravizando-o e colocando-o para trabalhar duro e pagar impostos para sustentar o dono da casa. 

Ao descobrir que, naquela terra, era escravo e não só estrangeiro, o povo pediu que Deus, o verdadeiro Deus, o seu Deus, o ajudasse a trocar aquele lugar por um que fosse seu e onde ele pudesse, ao seu modo próprio, decidir quem estaria no governo. 

Deus atendeu e como Ele não é mágico, o povo precisou caminhar até o novo território e no caminho muita coisa aconteceu. Várias vezes o  povo arrependeu-se de ter saído do lugar onde era escravo e quis voltar. Numa das ocasiões, o povo se viu de costas para o Mar Vermelho e de frente para o exército que tinha ido buscá-lo para devolvê-lo à escravidão. O povo murmurou. Era a encruzilhada. A gente volta ou segue em frente? Deus disse, em frente, “Marchem!” O mar se abriu. 

A pior orientação que se pode dar a um povo com relação à sua História é que volte ao passado, mesmo que exista um mar a transpor no caminho adiante. 

Uma das mais belas poesias que conheci no tempo em que o PT governava o país foi escrita e declamada por Ana Carolina: 

“Meu coração está aos pulos! 

Quantas vezes minha esperança será posta à prova? 

Por quantas provas terá ela que passar? 

Tudo isso que está aí no ar. Malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. 

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? 

É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. 

Meu coração tá no escuro. 

A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam. 

  • Não roubarás! 
  • Devolva o lápis do coleguinha!
  • Esse apontador não é seu, minha filha!

Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: Esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. 

Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: Mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem! 

Dirão. 

  • Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba . 

Eu vou dizer. 

  • Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. 

Dirão. 

  • É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal. 

E eu direi.

  • Não admito! Minha esperança é imortal!

E eu repito, ouviram? 

Imortal! 

Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final!”

Diga ao povo que Marche. Voltar não vale a pena. 

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Roberto e o ódio.

Segunda-feira, 6 de junho de 2005. A Folha de São Paulo publicou a entrevista que a jornalista Renata Lo Prete fez com o deputado federal Roberto Jefferson, ao que se sabe, a pedido dele. Naquele momento, Pandora desobedeceu a ordem de Zeus e abriu a caixa que trouxe do Olimpo para a Terra. A política brasileira ingressou com Dante e Virgílio, no inferno, onde a esperança não vai.

O depoimento de Roberto Jefferson a Renata Lo Prete produziu três Comissões Parlamentares de Inquérito e quase levou Lula ao impeachment. Mas, as consequências do que ele divulgou não ficaram por ali. Veio depois a operação Lava-Jato e todo o resto. Muita gente brilhou sob os holofotes dos casos, em especial ,os ministros do Supremo Tribunal Federal que subiram à ribalta. Mas, outros tantos queimaram quando colocados sob o calor das mesmas luzes.

 A pergunta no ar naquele momento de 2005 foi: “o que levou Roberto Jefferson a fazer as denúncias?” Seria arrependimento? Pode ser, pois ele participou de todas as situações que ele mesmo denunciou. Mas, se fosse arrependimento! Roberto Jefferson teria dito um futuro melhor. Ao que me parece, o ódio motivou Roberto e nenhuma dúvida se poderia ter disso depois de se ouvir o que ele disse ao colega José Dirceu na Comissão de Ética: “Tenho medo de Vossa Excelência, porque Vossa Excelência provoca em mim os instintos mais primitivos”.

Roberto Jefferson teve o mandato de deputado federal cassado, cumpriu pena de prisão e voltou ao convívio com a sociedade, mas o ódio permaneceu com ele, mesmo depois que José Dirceu deixou de ser relevante. Sem Dirceu, o ódio presente em Roberto Jefferson buscou outros alvos e aninhou-se até na religião que ele passou a professar. Roberto Jefferson tem um ódio cego, que não lhe dá descanso. Não lhe dá paz. E esse ódio poderá matá-lo.

Quando passou a dar abrigo ao ódio, Roberto Jefferson deixou de ser político, porque a política não comunga com o ódio. Nunca. Em nenhum lugar. A política não está nas guerras, mas nos tratados de paz. Quando as guerras acontecem, a política perdeu. O que se vê neste momento no Brasil, tem mais de ódio do que de política.

Que pena o ódio esteja presente, como está, na campanha deste ano para a presidência da república. Sem o ódio, a disputa seria sadia. Dante viu na porta do inferno dizeres que muitos usam como retórica: “Deixai toda a esperança, vós que entrais”. Nos umbrais da política se pode ler o contrário – exatamente o contrário: “Trazei a esperança, vós que entrais”.