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O Abutre

NC_03214_rgbQuem trabalha com eleições e defesa da imagem dos políticos deveria assistir, “O Abutre”, filme de 2014, dirigido por Dan Gilroy, tendo Jake Gyllenhaal no papel principal.

O enredo é simples, chato, mas esclarecedor. Orientado por um experiente freelancer, que vende imagens de crimes e acidentes com vítimas para telejornais,   o desempregado Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) decide seguir-lhe os passos, para ganhar dinheiro. O objetivo deles é alcançar um furo de reportagem.

Para vencer a corrida contra os concorrentes e aguçar o interesse de um canal de TV, a ponto de ganhar muito dinheiro, Louis Bloom resolveu criar,  ele mesmo, os furos de reportagem e um deles, o assassinato do próprio sócio, numa perseguição policial, que ele mesmo armou. Louis Bloom faz dinheiro suficiente para abrir uma empresa.

Qualquer semelhança com o que acontece na relação da imprensa com política não é mera coincidência. Todos os dias, jornais, telejornais e colunas nas mídias sociais criam fatos e os transformam em furos de reportagem para vender notícia. Saber lidar com isso é experiência fundamental para quem atua com a construção e defesa da imagem dos políticos.  

Por Jackson Vasconcelos

 

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Que raios de candidatos são Dória e Trump?

Dória, prefeito de São Paulo, para cada dia tem uma imagem impactante. Aparece vestido de gari, visita escolas e hospitais de surpresa. Samba no Sambódromo Paulista. E faz outras estripulias.

Em Washington, Donald Trump cria frases de efeito, assina decretos em frente às câmeras. Tudo em nome do marketing pessoal. Nada novo, para um mundo completamente novo e nisso está o problema da comunicação na política.

Os mandatos de Trump e Dória são de quatro anos, que podem ser renovados por mais quatro. Esse dado insere um fato importante nas campanhas de marketing pessoal. Para quanto tempo têm na manga, Dória e Trump, novidades para oferecer aos eleitores? Aguardemos. Filmes parecidos já vimos no início de quase todos os governos, que chegam eleitos contra os governos que lá estavam.

Quem está na política precisa de marketing pessoal, sem dúvida. Mas, deve fazer isso com muito cuidado para que a realidade não traia a imagem. Quando as aparições e a pirotecnia do início dos mandatos não são confirmadas pela consistência das medidas administrativas, o sucesso se faz desgraça.

Eu não esqueci o início do primeiro mandato da Dilma Rousseff. Ela na Ana Maria Braga. Ela no programa da Hebe Camargo. Ela a mãe do PAC. Ela, a mulher que demitiu ministros por simples suspeita de corrupção. Imagens fortes no início do primeiro mandato. Impeachment na abertura do segundo.

Também não esqueci as imagens do Governador Sérgio Cabral nas visitas aos hospitais públicos do Rio, na abertura do primeiro mandato. Hoje, está preso. E Garotinho? Abriu o primeiro e único mandato de governador visitando delegacias que caiam aos pedaços. Por onde anda o sujeito?

Por Jackson Vasconcelos

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Que raios de eleição será a próxima?

Apresentação1Comecei a me preparar para entender o quadro que poderemos ter em 2018, na campanha presidencial. Resolvi cumprir a norma inflexível de Dick Morris, que recomenda a quem queira fazer carreira na política a obrigação de “compreender que outros vieram antes, e que um estudo da história pode evitar muita dor de cabeça”. Fui ao passado e reencontrei nas minhas estantes a raridade “O Fenômeno Jânio Quadros”, obra de Viriato de Castro.

O livro é do tempo em que os políticos brasileiros caminhavam os primeiros passos para aquela que foi a  última eleição para Presidente da República, antes de os generais tomarem o poder.

Vejam o que escreveu Viriato na introdução:

“Jânio será, não temos mais dúvida, candidato à presidência, registrado por dois ou três pequenos partidos. Ninguém pode detê-lo, pois jamais foi possível opor um dique a um ciclone ou tentar desviar um furacão. Apenas a máquina partidária, com enormes e terríveis forças organizadas contra ele, poderá derrotá-lo. Contudo, quem já esqueceu que esse homem destruiu a poderosa máquina eleitoral de Adhemar de Barros, a mais azeitada e engraxada, que já tivemos no Estado de São Paulo? Quem poderá garantir que Jânio não repetirá, com êxito, os feitos anteriores, varrendo tudo o que se opuser à sua passagem?”.

De fato, Jânio venceu e o livro vale a pena ler sempre. É o relato de uma experiência altamente sucedida de marketing político, num tempo em que ninguém sabia exatamente o que era isso.

A bandeira do Jânio foi a da recuperação moral, política e administrativa de um Brasil atordoado com a velocidade do governo Juscelino que, por ter feito Brasília, foi acusado de permeável à corrupção. Jânio venceu com o símbolo de uma vassoura para varrer a “bandalheira”. Jânio renunciou em pouco tempo. Depois dele veio, por causa dele, a bandalheira política, o caos.

Adiante alguns anos, chegaram triunfantes os generais, para promover a recuperação moral, política e administrativa do Brasil.  Em seguida, o povo quis e teve, por quase nenhum tempo, Tancredo Neves. Levou José Sarney para o resto do tempo.

O primeiro presidente civil do Brasil, após os generais,  afundou o país no mesmo ambiente que, quase 30 anos antes, favoreceu a eleição do Jânio Quadros. Então, surgiu um novo Jânio no corpo do político Fernando Collor de Mello. Ele prometeu a recuperação moral, política e administrativa do Brasil. Entregou decepção.

Viemos em boa marcha até a reeleição da senhora Dilma Rousseff, que deixou o Brasil mergulhado no mesmo ambiente que em 1960, favoreceu a eleição de Jânio Quadros e em 1989, a de Fernando Collor de Mello.

Michel Temer, vice de Dilma Rousseff, tomou-lhe o lugar. Assumiu com a promessa de promover a recuperação moral, política e administrativa do Brasil. Certamente, não fará e a bandeira estará de volta na campanha de 2018, certamente, no discurso de todos os candidatos a presidente. Para saber quem será o eleito, basta observar de perto o jogo e identificar o candidato que tenha a imagem de autoridade moral para erguer a bandeira.

Se o eleito terá sucesso, saberemos quando conhecermos o peso que terá o marketing eleitoral na campanha. Caso seja dele o tom completo, podemos aguardar que na galeria dos eleitos pela imagem distorcida da realidade haverá mais um retrato.

Por Jackson Vasconcelos

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Lula continua vivo. Muito vivo!

Para quem acredita que nos tempos modernos o discurso perdeu força na política, aqui vai uma lição importante, sempre com a ressalva: antes das campanhas, qualquer prognóstico de resultado eleitoral é risco.

Lula sabe como fazer discursos que mexem com o coração do povo. Entre os prováveis candidatos a Presidente, nenhum outro candidato há com tamanha capacidade para produzir imagens e fatos que rendem votos.

Prestem atenção no resultado que Lula conseguiu com o discurso que fez no enterro da Dona Marisa. Vamos primeiro ao discurso, depois ao resultado.

Separei partes dele:

“Eu vou continuar agradecendo a Marisa, até o dia que eu não puder mais agradecer, o dia em que eu morrer. Espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido que eu escolhi para colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, e não tem medo de vermelho quando morre.

(…) Ela está com uma estrelinha do PT no seu vestido, e eu tenho orgulho dessa mulher. Muitas vezes essa molecada (os sindicalistas) dormia no chão da Praça da Matriz (de São Bernardo do Campo), e a Marisa e outras companheiras vendendo bandeira, vendendo camiseta para a gente construir um partido que a direita quer destruir.

Na verdade, Marisa morreu triste. Porque a canalhice que fizeram com ela, a imbecilidade e a maldade que fizeram com ela, eu vou dedicar (Lula não encerrou a frase). Eu tenho 71 anos, não sei quando Deus me levará, acho que vou viver muito, porque eu quero provar que os facínoras que levantaram leviandade com a Marisa tenham, um dia, a humildade de pedir desculpas a ela”.

Ontem, dia 16 de fevereiro, uma nova pesquisa de intenção de votos para Presidente da República, em 2018, mostra a força que teve o discurso do Lula somado à imagem da morte da esposa. A pesquisa foi patrocinada pela Confederação Nacional de Transporte:

Lula apresentou-se com 24,8% em outubro. Bateu 30,5% depois do episódio Marisa. Para o segundo turno, Lula perderia a eleição para Aécio com uma diferença de quatro pontos percentuais: Aécio, 37,1% e Lula, 33,8%. Depois do enterro da Dona Marisa, na pesquisa recente, Lula venceria Aécio com 12 pontos à frente. Lula com 39,7% e Aécio, 27,5%.

E como comentário final, a manchete do Valor Econômico sobre a pesquisa: “Pesquisa indica que é preciso olhar Bolsonaro”. Manchete forçada para não falar do fenômeno real: Lula venceria a eleição, mesmo depois de demolir o país.

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Por Jackson Vasconcelos

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Que raios de política é essa?

Artigo.TemerPolítica se faz com doses certas de emoção e racionalidade. O exagero no uso de qualquer dos ingredientes causa indigestão. A ausência dos dois, mata.

Michel Temer nada aprendeu com o impeachment da Dilma Rousseff. Nem com a vida. Ele assumiu o governo sem legitimidade. Por isso, a primeira medida inteligente dele deveria ser conquistá-la, mas fez o contrário. Nomeou ministros com biografias ilegítimas para o cargo. Na arrancada, perdeu Romero Jucá. Depois, Marcelo Calero, um sujeito capaz de gravar conversas confidenciais que teve com o presidente. Quase no mesmo momento, o folgado Geddel Vieira Lima. Perderá Moreira Franco, que pareceu mais esperto no início do processo, quando não aceitou a alcunha de Ministro.

Michel Temer abençoou Eduardo Cunha e aproveitou a brecha aberta no Supremo Tribunal Federal para lançar pra lá o Ministro da Justiça, com a sociedade cheia de dúvidas sobre a intenção do gesto.

Michel Temer jogou fora a oportunidade que a inépcia da Dilma Rousseff e a estupidez do Lula, que a escolheu, lhe deram a chance de ser presidente da república e registrar o nome de forma positiva na história do Brasil.

No governo Michel Temer faltam emoção e racionalidade. É um governo que causa náuseas e faz mal à saúde. Um governo que morre rápido a cada decisão do presidente.

Por Jackson Vasconcelos

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Não me engane, eu não gosto

 

Da França chega mais uma lição para quem deseje fazer política num mundo sem privacidade, sem paciência e onde a velocidade das comunicações estreita imagem e realidade numa velocidade incrível.

François Fillon é candidato à presidência da França, pelo partido Les Républicains. Ele começou a campanha com muita antecedência, em 2013. Em abril, chegou a ser o favorito, com a bandeira de eliminar meio milhão de empregos no setor público, para aliviar o peso do Estado nos ombros dos contribuintes. A mensagem era de alguém disposto a acabar com o apadrinhamento político como variável de custos no setor público. O Instituto Elabe apontou Fillon com 30% dos votos no primeiro turno.

Mas… descobriu-se que a esposa dele e os filhos vinham sendo favorecidos pelo fato que ele condena. Não deu outra. Fillon perdeu a condição de favorito, está sendo investigado por apadrinhar esposa e filhos e a candidatura entrou em espiral de baixa. Na segunda-feira passada, dia 30, o mesmo instituto de pesquisa ouvido antes, deu a Fillon 20% dos votos com possível derrota no primeiro turno. Os outros dois candidatos competitivos, Marine Le Pen e Macron apresentam, respectivamente, 27% e 23% de preferência dos eleitores.

Não há nada no mundo todo, um fato, que irrite e decepcione mais eleitores, do que a descoberta de imagens altamente positivas, que não condizem com uma realidade altamente negativa. E isso não é de hoje. Por aqui, já derrubou presidentes e governadores.

Por Jackson Vasconcelos

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É hora de fazer pesquisa

Político adora pesquisas… no tempo das campanhas. No intervalo entre elas, nem pensar. Acham caras, absurdamente caras. Normalmente, vaidosos, os políticos adoram as pesquisas que os favoreçam e vêem todo tipo de erro naquelas que mostram as suas desvantagens e fraquezas. Por isso, quem faz pesquisas para os políticos sabe o quanto eles estão determinados a influenciar os resultados delas.

Como as pesquisas têm uso só como alimentadoras das vaidades, elas, quase sempre, são descartadas na tomada das decisões dos políticos. Eles pedem as pesquisas, pressionam pelos resultados que lhes favorecem e quando os dados lhes são apresentados, normalmente, vangloriam-se e, em seguida, as descartam. Seguem adiante com as decisões que tomariam mesmo sem os dados obtidos.

Bons conselhos para quem queira ter sucesso na política:

  1. Realizem pesquisas, poucas, mas efetivas, no intervalo entre os tempos oficiais das campanhas. Nessas ocasiões os preços são vantajosos, porque o mercado está desaquecido. Não para saber a intenção de votos, mas para conhecer como os eleitores estão percebendo a política no momento.  
  2. Não mascarem o ambiente, para mascarar os resultados. Deixe que as pesquisas coletem os dados corretos, reais.
  3. Para elaborar as estratégias das campanhas, que acontecerão adiante, os resultados das pesquisas devem servir como instrumentos de decisão.  

Portanto, 2017, no mundo das eleições para as funções de Estado, é ano bom para realizar pesquisas. Elas são mais baratas e nortearão a elaboração da estratégia para o tempo mais quente e agitado, que é o tempo certo das campanhas oficiais.

Por Jackson Vasconcelos

 

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2018 é logo alí

Já está no horizonte a eleição de 2018, que será para deputados federais, estaduais, senadores, governadores e presidente da república.

A eleição do ano passado, para vereadores e prefeitos, deixou marcas que precisam ser consideradas no próximo pleito por quem será candidato ou traçará estratégias para as campanhas. Uma das marcas é o paradigma. Até 2016, as campanhas eram regadas à dinheiro fácil e pouco do que diziam os candidatos seria contestado com provas contundentes. Mas, está claro, que esse paradigma morreu e se não for enterrado terá mau cheiro no próximo ano.

Acabou a fase do dinheiro farto e é possível contestar com rapidez o que falam os candidatos e o que não falam, também. Ao lado disso, há as mentiras que sobre ele os adversários divulgam nas redes sociais.

Outro paradigma morto e que cheira mal é o voto obrigatório. Pouco importa que a legislação mude. O eleitor já decidiu não se curvar à obrigatoriedade do voto. Prova disso é o percentual elevado de abstenções.

A estratégia nas campanhas adiante será a do convencimento e, para convencer, é preciso comunicar, dialogar, debater. O discurso puro e simples de nada mais adianta. É preciso que ele contenha verdade e argumentos factíveis e compreensíveis. O discurso terá necessidade também de porta-vozes autorizados, que tenham boa imagem e empolgação. Ninguém substitui o candidato no papel de porta-voz.

Quem não está numa ponta nem na outra, precisará de criatividade e expertise no uso das ferramentas das mídias sociais para chegar ao eleitor e conquistar-lhe o voto. E, precisa começar já, para que o tempo jogue a seu favor.

A decrepitude do voto obrigatório, comprovada pelos percentuais elevados de votos em branco, nulos e abstenções, faz outra exigência aos candidatos: a absoluta necessidade de motivar o eleitor.

Por Jackson Vasconcelos

 

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Imagem e conteúdo

Branco

John Fitzgerald Kennedy, Barack Obama e o nosso Juscelino Kubitschek são conteúdos diferentes  com a mesma embalagem: simpatia, charme, oratória de líder cativante e esposas encantadoras.

A política é mais imagem que conteúdo e, bons de imagem, os três presidentes atravessam a história com elevados índices de popularidade. Isso agrada ao povo, mas, muitas vezes, incomoda aos inquilinos no poder. Kennedy foi interrompido por uma bala disparada em Dallas. Juscelino pela ditadura. Mas, até aqui tudo caminha bem com o Barack Obama. Já se vê que ele tem mais sorte que os outros dois presidentes.

Resta saber que efeitos terá sobre a imagem de Barack Obama, o governo mal-humorado, desengonçado e radical, do Donald Trump.

Por Jackson Vasconcelos

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Quem sabe?

Brizola retornou do exílio e venceu a primeira eleição direta para governador do estado, no Rio de Janeiro, em 1982. Os eleitores, na verdade, deram o troco na ditadura.

Brizola governou basicamente a cidade do Rio de Janeiro voltado para as favelas e com uma marca criada na educação pelo Vice-Governador Darcy Ribeiro: a presença dos alunos pobres nas escolas o dia todo. Brizola criou a educação de tempo integral e os Centros Integrados de Educação Pública, CIEP’s, que volta aqui e ali, sem muito brilho, na retórica das campanhas eleitorais. Collor fez graça nesse campo, como graça também fizeram Eduardo Paes e Pedro Paulo com as tais “Escolas do Amanhã”.

As classes média e rica do Rio de Janeiro, sempre representadas na comunicação, pelo Sistema Globo de jornal, rádio e TV, não gostaram nada da novidade criada pelo Brizola.    De 1982 a 1985, os prefeitos das capitais eram nomeados pelos governadores. O prefeito nomeado por Brizola no dia da posse no governo do estado, 15 de março de 1983, renunciou em dezembro. Brizola, então, escolheu Marcello Alencar.

Na primeira eleição direta para Prefeito do Rio, as classes média e rica enfrentaram, divididas, o candidato do Brizola, Saturnino Braga e o tal compromisso deles com as favelas. Foram 17 contra 1. Brizola e a tese dele de defesa dos pobres venceu. Saturnino não foi feliz e pouco tempo depois, passou o vexame de declarar a falência do município.

Entramos em 1986. Por compreender que divididas elas seriam eternamente derrotadas pelo Brizola, que tinha um eleitorado consolidado na faixa de 33 a 35%, as forças políticas que o rejeitavam, uniram-se, num arco de alianças que ninguém acreditava possível. A rejeição das classes média e alta ao Brizola foi o estímulo da união. Brizola não pôde, ele mesmo concorrer, porque a legislação não permitia. Então, apresentou-se com a candidatura do seu vice-governador, Darcy Ribeiro, que bateu 35% votos. Moreira Franco venceu com 49%.

Mesmo assim, em 1988, o candidato do Brizola, Marcello Alencar, venceu a eleição para a Prefeitura do Rio, com 32% dos votos, porque as classes média e alta novamente se dividiram: 14 contra 1. O PT, com Jorge Bittar, tinha fortes laços com a classe média e alta e passava longe das propostas socializantes de Brizola.

Moreira Franco fez um governo avesso ao do Brizola. Abandonou o programa de ensino integral e CIEP’s, substituindo-os pela construção do presídio de segurança máxima em Bangu, semente do que é hoje o Complexo Penitenciário. Lá está Sérgio Cabral Filho, governador que, quando eleito, foi cantado em prosa e verso pela nata da comunicação carioca como sendo a libertação definitiva do Rio das amarras da ideologia do Brizola, representada naquele momento, pelo casal Garotinho.

No governo, Moreira Franco conseguiu decepcionar os seus e os contra, porque fez do governo do estado um êxtase, um culto à esquizofrenia. Era um político jovem, que incorporava, cada vez com mais intensidade e nas horas de despacho, o espírito de Vargas.

A decepção da sociedade carioca com o Moreira dissolveu a aliança que o elegeu e, em 1988, Brizola, fora do governo do estado, venceu, novamente, a disputa pela Prefeitura do Rio, elegendo Marcello Alencar, com 31% dos votos. 14 candidatos contra 1.

Na eleição seguinte para o governo do estado, eleição já com dois turnos, Brizola venceu no primeiro e ultrapassou, de longe, a marca histórica dos 33 e 35% dos votos. Elegeu-se governador com 61%.

A popularidade gigantesca do Brizola rachou o grupo dele. Ele que tinha uma escala hierárquica claramente definida, entendeu que a eleição para o governo do estado em 1990, deveria ser disputada pelo Anthony Garotinho. Marcello Alencar não aceitou a disciplina, saiu do partido, levou as ideias do Brizola com ele e tornou-se governador do estado, por um partido onde nunca se sentiu confortável, o PSDB.

O mesmo ocorreu na disputa pela Prefeitura do Rio em 1992. Brizola entendeu que seria a vez da Cidinha Campos. César Maia se insurgiu e, carregando as ideias do Brizola, mais tarde incorporadas no programa Favela-Bairro, foi eleito Prefeito do Rio, pelo PMDB. Vejo o César como a encarnação moderna do Brizola. César Maia me passa a ideia de um homem em exílio permanente, a perambular pelo mundo da elite carioca.

Portanto, no Rio de Janeiro, capital e estado, Brizola atravessou os tempos, mesmo depois de morto. Dele saíram, no governo do estado, Marcello Alencar, Garotinho e Rosinha. Na capital, também Marcello Alencar, César Maia, Conde e Eduardo Paes. Vê-se, com facilidade que a capital foi mais feliz. Eu atribuo a felicidade às qualidades pessoais do César. Coisa minha.

Ano passado, o Rio elegeu Marcelo Crivella, que nenhum laço tem com o Brizola, mas tem semelhanças. Sobre ele está a rejeição das classes que sempre rejeitaram o Brizola, vocalizada também pelo sistema de comunicação Globo.

Dizem que a rejeição ao Crivella tem algo com a fé que ele professa. Pode ser. Ele mesmo acredita nisso, me parece. E a vitória de agora, ocasião em que ele buscou a diversidade religiosa como planta de campanha, deve ter reforçado nele a convicção. Pouco importa. Importa-me mais outra semelhança dele com o Brizola: a opção pelos pobres e desconforto das elites com ele, que no governo do estado ainda estão representadas pela presença, em espírito, do Sérgio Cabral Filho, embora não queiram admitir.

A opção pelos pobres poderia fazer renascer, no município, o plano de Darcy Ribeiro para a educação. Alunos todo o tempo nas escolas, com múltiplas atividades, alimentação, atendimento médico, odontológico e psicológico, tendo-se também o cuidado com as famílias.

Por Jackson Vasconcelos