Li o livro “Roberto Jefferson, o homem que abalou a República”, do jornalista Cássio Bruno. Li num salto só. Expectador privilegiado, passei por quase todos os episódios citados pelo Cássio. Gostei da obra. Ela é bem escrita. Em algumas passagens detalha demais, impressão talvez só para os que, como eu, acompanharam boa parte das cenas e das histórias relatadas na época em que ocorreram. Mas, são informações consistentes e, certamente, necessárias para os menos informados.
Cássio passeia por algumas CPIs por onde andou o ex-deputado Roberto Jefferson. Nenhuma CPI, no entanto, teve significado maior para as decisões que tiraram o mandato e prenderam o personagem de Cássio Bruno, do que a CPMI dos Correios.
Embora outra recebesse o apelido de “CPI do Fim do Mundo”, a CPMI dos Correios deu o tranco na política que empurra o processo até hoje, Lava-Jato a dentro.
Outra qualidade da obra é a proeminência da veia de pesquisador como qualidade adicional de alguém tido por mim por muito tempo só como excepcional jornalista.
Cássio Bruno construiu uma linha histórica impecável, sem deixar passar para as letras a sua opinião a respeito do personagem, atitude difícil para os jornalistas-repórteres, principalmente nestes tempos de repórteres de forte ideologia.
Os depoimentos e documentos mostrados no livro prestam um serviço à história do Brasil, porque não deixam dúvidas sobre o papel do ex-deputado Roberto Jefferson na política desde o momento em que nela ingressou e nos episódios mais intensos que relata. Ele não é e nunca foi herói. Esteve sempre como aproveitador das janelas que a política oferecia para a carreira política pessoal.
As denúncias dele sobre o governo do PT não foram atos de patriotismo nem de preocupação com o Brasil ou com o combate à corrupção. Muito menos, atitudes de coragem. Elas alimentaram-se numa briga pela partilha do dinheiro público, para financiar interesses privados.
Contrariado na briga pelos interesses próprios, Jefferson reagiu. Achou que não precisaria ir muito longe até que o governo cedesse. Contudo, o governo não cedeu, porque tinha propósitos de caráter idêntico. Jefferson e governo não perceberam que já estava em andamento, na sociedade, um processo de mudança, de perda e substituição das penas como acontece com as aves. Um e outro quebraram a cara.
Cássio Bruno, para entregar aos leitores um retrato de corpo inteiro dos meios e modos adotados pela política nacional, um retrato ainda não apagado totalmente, usou como roteiro a história de um personagem que se tornou nacional.
No livro estão expostas as feridas de um sistema que não são exclusivamente do Congresso Nacional. Estão nos partidos, que não se importam de acomodarem bandidos condenados, e na legislação penal, que, como mágica, faz uma sentença de sete anos ser dada por cumprida em apenas dois anos e pouco mais.
No capítulo final do livro, “Final Feliz”, Jefferson na saída do presídio declarou: “Está paga. Está paga. Está paga a pena”. Brota das letras algo como “Saiu barato”.
Renato Russo seria um excepcional prefaciador do livro do Cássio Bruno, para nos dar alguma esperança de, mesmo com as resistências de um sistema político completamente corrompido, acreditarmos num amanhã melhor:
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!
Por Jackson Vasconcelos
Foto: Alessandro Costa