A primeira-dama do Brasil anda com a agenda cheia. Mas, não no mesmo estilo das agendas tradicionais das primeiras-damas. Ela faz política partidária. Ótimo que assim seja. Os casais Ortega e Lula da Silva se parecem. A semelhança está no modo de agir das primeiras-damas, as senhoras Rosario Murillo e Rosângela da Silva. Rosário é protagonista no governo de Daniel Ortega, Rosário não é só primeira-dama, é também vice-presidente da Nicarágua. A primeira-dama do Brasil, claramente, busca o mesmo protagonismo.
Dizem que Lula é amigo de Daniel Ortega. E, de fato, parece ser. Ortega é um ditador e Rosario Murillo, uma mulher que o estimula. Mas, o fato de Lula ser amigo dele e os dois estarem casados com esposas que amam o poder faz do Presidente do Brasil um ditador? Não, necessariamente.
Ora, um ditador não existe por si mesmo, pois um ditador, para fazer o que quer e bem entende, precisa de quem cumpra as ordens que ele dá. Não lhe basta a índole autoritária e o conselho das esposas, que nas ditaduras têm sempre papel marcante. Sem alguém, covarde ou venal o suficiente para cumprir-lhe as ordens, um ditador fracassa. Esteja na presidência de uma república, no trono de um império ou num gabinete hermético de onde olha o mundo à sua volta como uma propriedade privada.
Na Nicarágua há quem obedeça cegamente às ordens do carrasco Ortega e da sua esposa, Rosário. Quem não o tolera tenta enfrentá-lo, mas quem o obedece leva todos os demais para os cárceres, cemitérios e para fora do país. Os covardes à serviço dos ditadores matam as oposições e fazem das leis utensílios para uso pessoal. Isso considerado, existe no Brasil quem obedece cegamente ao Presidente Lula ou a qualquer dos poderes que formam o Estado Brasileiro? Se existir, independente das relações pessoais que há entre Lula e Ortega, vivemos o risco de uma ditadura, como outras tantas que tivemos, de Vargas a João Figueiredo.
Num país onde todos os cidadãos e instituições são obedientes, exclusivamente, às leis e elas são legítimas, pois fruto da vontade do povo, não há espaços para os ditadores, nem para feiticeiras que os enfeitiçam. Mas, somos, afinal, um país onde as leis são legítimas? Onde só a elas se deve obediência cega e fora delas não há ordens a cumprir? A respostas a essas perguntas define que tipo de regime político temos por aqui e se não é ainda uma democracia, deveríamos procurar alcançá-la e o caminho não é, com certeza, pelo cumprimento cego das ordens ao arrepio da lei.