O primeiro turno da campanha para Prefeito do Rio foi monotemática, por isso, produziu um resultado inesperado: Marcelo Crivella, representante do fundamentalismo religioso, contra Marcelo Freixo, representante da anarquia e terrorismo urbano. Coisa de doido, doutor.
A violência contra a mulher foi o monotema da campanha, porque o candidato do PMDB foi acusado pela ex-mulher de surrá-la.
Nos Estados Unidos corre a campanha para Presidente. Disputam Hillary Clinton, pelos Democratas, e Donald Trump, pelo Partido Republicano. O monotema da campanha no Rio se tornou tema por lá. Um vídeo de 2005, do Trump com palavras grosseiras contra as mulheres apareceu. Ele não conversou. Convidou para o debate com a Hillary três mulheres que denunciaram à imprensa o marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, por abusos sexuais.
Os movimentos nas campanhas de lá e de cá serão coincidência? Podem ser. Mas, mesmo para as coincidências existe explicação. A política no mundo todo perdeu a capacidade de ler o pulso da população e acredita que o povo goste mais das acusações mútuas do que os exemplos pessoais de vida política. Perdeu o senso sobre o papel da política na construção de um mundo melhor.
A Globo News, no programa “Sem Fronteiras” tratou um tema que tem linha direta com a relação da população com a política. O repórter Tonico Pereira abriu o programa “As abstenções de voto no mundo: qual o futuro da democracia representativa?” com o número de pessoas que não foram votar: 25 milhões de brasileiros, “Isso equivale à população da Austrália”, disse Tonico.
Em seguida, entra Silio Boccanera, que está em Londres: “Aqui na Europa, a tradição de comparecimento às urnas cede lugar à uma abstenção crescente, sobretudo, entre jovens”. Depois, entra Jorge Pontual, de Nova York: “A descrença nas propostas dos partidos majoritários ameaça bagunçar ainda mais a já apertada corrida à Casa Branca. Que recado os eleitores do mundo todo estão tentando dar aos políticos? Será que a democracia representativa entrou em crise?”
Tonico Pereira volta à cena para dizer: “Milhões de brasileiros renunciaram a esse poder (democracia representativa) no primeiro turno das eleições municipais. Em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mais de 40% dos eleitores não foram votar, votaram em branco ou anularam o voto. Uma interpretação é que os eleitores deram um recado aos políticos pelos maus feitos revelados recentemente”.
Não tenho meios para medir nem dados para comprovar o meu sentimento, que contraria o do programa e de muita gente que anda a analisar o resultado das urnas no mundo todo. De nenhum comentarista recebi dados para contestar a minha interpretação, então fico bastante à vontade para afirmar: a decisão dos eleitores aqui e no mundo todo nada tem com satisfação ou insatisfação com a política, mas com a dificuldade de encontrar um, pelo menos um, que mereça o voto por uma história de vida ou imagem que garantam o cumprimento dos compromissos que os candidatos assumem nas campanhas.
Mas, há, na matéria da Globo News outro erro de avaliação. Tonico Pereira, quando comentou a abstenção no Brasil traçou um paralelo com a Colômbia: “As altas taxas de abstenção não são uma exclusividade do Brasil. Na Colômbia, por exemplo, 60% dos eleitores não foram votar no referendo, que decidiu o futuro de uma guerra, que se estende por mais de 50 anos”. Será que a abstenção na Colômbia foi um recado da indiferença ou do medo de votar numa situação que envolve terroristas?
Por Jackson Vasconcelos