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Sincericídio ou sincerivida?

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Diz Denise Frossard que os políticos usam as palavras para esconder os pensamentos. Confirmo, com um adendo ousado: “Eles e elas, mas eles do que elas, na política, usam as palavras para esconderem os pensamentos”. É a elegância verbal a favor de quem não queira qualificar os políticos – eles e elas – como hipócritas. 

A hipocrisia tem sido tão fundamental na comunicação política, que se criou uma sentença: o “sincericídio”. Político sincero morre como peixe, pela boca. 

Entretanto, há algo diferente no ambiente da comunicação política, que poderá ser útil na análise do comportamento: Jair Bolsonaro. O cara usa as palavras para dizer o que pensa. O problema dele com a imprensa e com os adversários não está, portanto, no que ele diz, mas no que ele pensa, que é exatamente o que ele diz. 

O caso é boa oportunidade para quem lida com a comunicação política entender  que rumos ela terá a partir da experiência da sociedade com Jair Bolsonaro, que venceu a eleição para a presidência usando as palavras para expor o pensamento e governa com a mesma atitude. 

Juan Carlos Ortiz, orientador da campanha vitoriosa de Iván Duque à Presidência da Colômbia, integrante do Fórum Econômico Mundial de Davos, numa entrevista ao Meio & Mensagem – edição de 3 de junho – dá um indicativo sobre o que confere credibilidade à comunicação no mundo hoje: 

“Quando as pessoas compartilham conteúdo, a credibilidade salta. Os modelos de credibilidade mudaram. Antes os meios tradicionais davam credibilidade. Hoje, não é assim. A credibilidade vem com as pessoas compartilhando. Eu denomino a situação de efeito cardume. Nos movemos como um cardume e acreditamos no peixe ao lado para nos mover. Você nunca vê um cardume mobilizando-se com um peixe líder. Simplesmente é a confiança e a credibilidade do peixe ao lado que nos move”. 

E eu complemento: É impossível ser hipócrita por muito tempo com o “peixe ao lado”, porque, por experiência própria e semelhança conosco, ele saberá sempre se o que eu digo é o que penso e se o que penso é exatamente o que ele também pensa. 

Eis o retrato fiel da comunicação praticada pelo Jair Bolsonaro. 

Mas, quero aproveitar um pouco mais a possibilidade de compartilhar com vocês o que disse Ortiz ao Meio & Mensagem: 

“Classifico as marcas como bípedes. Um pé é storytelling emocional e o outro tecnologia. Para ganhar você tem que ser bípede”. O que são os políticos? Uma marca, que tem uma história de vida, que precisa de correias de transmissão para que a história que contam, cheguem às pessoas que precisam ouví-la. 

A moderna comunicação dá vida à sinceridade – algo como “sincerivida”. 

Por Jackson Vasconcelos

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