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“Nem morrer de sede, nem morrer afogado”

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O candidato que quiser saber, antecipadamente, se será eleito, deve procurar uma lâmpada e esfregá-la até dela sair um gênio. Pode também buscar a ajuda de uma cartomante ou de um adivinho ou, quem sabe, compreender as fases da lua? Se nada disso servir, que tal uma bola de cristal? Agora, se o desejo for saber o que deve ser feito para melhorar as chances de vencer, aí temos um trabalho bom para um Instituto de Pesquisa.

Pesquisas de intenção de votos, por mais apuradas e científicas que sejam, não indicam o resultado de uma eleição, mas a tendência. Quem acreditar nisso será surpreendido e, surpresas, podem ser agradáveis ou desagradáveis. Certamente, Fernando Henrique Cardoso carrega, até hoje, o peso da vitória por antecipação na eleição de 1985, para a Prefeitura de São Paulo. Ele sentou antes na cadeira de prefeito, provavelmente, embalado pelas pesquisas que contratou. Perdeu, mas a foto ficou.

As pesquisas informam, somente, o desejo do eleitor no momento em que elas foram realizadas. Com propriedade e conhecimento de causa, a diretora do Ibope, Márcia Cavallari, aproxima as pesquisas do conceito dos diagnósticos. “Não são prognósticos”, diz ela.

Isso, porque o eleitor decide com base nas informações que recebe a cada momento do processo. Diante de informações novas, o eleitor pode mudar a escolha que fez. Então, conhecer que fatos podem impactar a decisão a ponto de mudar a direção dela é uma cautela aconselhável, elemento essencial na composição do questionário de uma pesquisa.

A melhor informação de uma pesquisa de intenção de votos não é o nome do candidato que, por enquanto, vence ou perde. Mas, que fatores andam a responder pela vitória e derrota. Chuvas fortes que inundam a cidade poucos dias antes de uma eleição influenciam a intenção de votos dos eleitores numa campanha para prefeito?

Outro dado importante para avaliar as pesquisas é saber o universo pesquisado – a qualidade e tipo das amostras. Sim, porque, os pesquisadores não ouvem todos os eleitores, mas uma amostra do conjunto todo. O ambiente da coleta dos dados também influencia o resultado. Se capturadas no domicílio do eleitor, por telefone ou face a face ou, ainda, nos locais que os institutos de pesquisa chamam de “pontos de fluxo”, a conclusão pode ser diferente.

Por tudo isso, uma pesquisa isolada, que não permita identificar as possibilidades de movimento da intenção de votos tem utilidade zero para a composição do mapa estratégico da campanha, que é instrumento fundamental de trabalho.

Pesquisas isoladas nada medem e só servem para encher de alegria ou apreensão os candidatos, as equipes, parentes e amigos dele. E de dinheiro os institutos, porque pesquisas eleitorais são coisas que custam caro. Tanto que, na década de 30, mudaram a história de uma rádio para transformá-la no Ibope. O proprietário da “Cosmos”, rádio situada em São Paulo, resolveu descobrir a audiência que tinha e soube que nos Estados Unidos um estatístico, George Gallup, poderia dizer como. Foi lá, conheceu a metodologia, aplicou-a e descobriu que a audiência era sofrível. Fechou a rádio e inaugurou o Ibope.

Campanhas sem pesquisas são voos no escuro, com pesquisas de menos, desastre quase certo e, catástrofe completa, quando feitas só para alimentar o ego dos candidatos e garantir financiadores.

Pesquisa a gente faz, não uma ou duas, mas uma série, para que as fotografias dos momentos em sequência criem a ideia de movimento na direção do dia da eleição. A gente deve fazer também, quando, no curso do processo, algum fato novo tem cheiro de mudar o rumo da eleição.

A composição correta dos questionários de pesquisa é outra providência essencial para transformar informação em elemento estratégico. Não adianta perguntar o que já se sabe e o que não é fundamental para elaborar o mapa estratégico, trabalhar o perfil do candidato, moldar o discurso e organizar a campanha. Há por aí muita gente boa e experiente que erra na elaboração dos questionários de pesquisa e, por isso, fornece aos estrategistas, comunicadores e pessoal de marketing informações equivocadas. O resultado não é outro: campanhas sem pé nem cabeça, com muito marketing, pouca comunicação, discurso equivocado e etc.

A campanha passada para a Presidência da República é um case, que me mantém curioso até hoje. Sempre me pergunto: por que o Aécio Neves passou os dois turnos com um discurso de uma nota só, corrupção na Petrobrás, enquanto a principal adversária, Dilma Rousseff, corria sem ser incomodada no tema de fragilidade: a qualidade do governo? Deve ter sido coisa de pesquisa com questionário com elaboração defeituosa.

A equipe do candidato e ele mesmo devem evitar que as pesquisas produzam informações de menos ou de mais. E, neste caso, não vale o dito: melhor pecar pelo excesso do que pela falta, porque numa campanha eleitoral o excesso e a ausência dos dados essenciais empurram o processo para a direção errada.

Tem candidato que adora ter uma pesquisa pra chamar de sua. Pra dizer: “tô bem nas pesquisas”. E, neste ponto, encerro. As pesquisas não são instrumento de trabalho para os candidatos, mas para os estrategistas que orientam as campanhas. Tanto menos os candidatos participem delas, mas chances tem de não se deixar influenciar.  A regra, quando assunto é informação, vale melhor a dica: “nem morrer de sede, nem morrer afogado”.

Por Jackson Vasconcelos

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