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Escrúpulo versus estratégia

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O tempo longo do Eduardo Paes na Prefeitura do Rio encerra-se daqui a pouco. Em janeiro. Foram dois mandatos consecutivos. Um conquistado numa disputa dura, apertada, no segundo turno com o Fernando Gabeira em 2008. O outro, num passeio contra Marcelo Freixo, em 2012. Eduardo Paes venceu com mais de 60% dos votos no primeiro turno.

Não se sabe ainda a quem Eduardo Paes entregará o bastão. É desejo dele até as entranhas, que seja ao deputado federal Pedro Paulo, seu principal coadjuvante, uma espécie de ajudante de ordens.

Na verdade, Eduardo Paes quer um terceiro mandato. Será a segurança dele para alçar vôos mais altos. Na política, a vida é cíclica. Aquilo que você vê hoje, viu ontem. Eduardo Paes busca no Pedro Paulo a lealdade ou a subserviência que César Maia não conseguiu do Luiz Paulo Conde.

Eleito Prefeito do Rio em 1996, Conde recebeu a missão de eleger César Maia governador do estado. César perdeu. Não gostou do resultado e foi tomar do Conde, de volta, a prefeitura. Só conseguiu na marra e no voto, porque Conde esperneou muito e saiu candidato à reeleição.

Mas, saber quem será o sucessor do Eduardo Paes é coisa para mais adiante. Quero tratar aqui e agora do processo que fez dele candidato na primeira eleição, pelas lições de estratégia de posicionamento.

Eduardo Paes quis ser o sucessor do César Maia com apoio do próprio. Não conseguiu. Então, abandonou o partido do padrinho à busca de outro, José Serra, no PSDB. Eduardo chegou a ser Secretário-Geral Nacional do Partido, com Serra na Presidência. Esteve no front do partido no processo de desconstrução do PT na CPMI dos Correios, que investigava o Mensalão. Fez um bom papel, mas isso também não deu, porque o PSDB não tem expressão eleitoral no Rio suficiente para eleger o Prefeito da Cidade.

Eduardo Paes achou melhor buscar outro padrinho. Deixou o PSDB, o Serra e, já na eleição para o governo do estado em 2006, mesmo sendo candidato do partido, deu uma mão forte ao Sérgio Cabral Filho, que venceu a Denise Frossard no segundo turno. Logo depois da vitória do Sérgio Cabral Filho, Eduardo Paes assinou a ficha de filiação ao PMDB. O novo padrinho garantiu a ele a vaga de candidato à Prefeitura do Rio.

Mas, Sérgio Cabral Filho, mesmo no auge da popularidade, sem o político Jorge Picciani, é ninguém. E Jorge não gostou da história de Eduardo Paes ser candidato a Prefeito do Rio sem um tête-à-tête exclusivo. Picciani não foi ouvido, então, deu um soco na mesa e avisou ao distinto público que o PMDB iria com Alessandro Molon do PT em 2008.

Eduardo Paes tremeu e mostrou que sentiu o golpe: “um soco no estômago”. Para ser candidato, ele deveria deixar a Secretaria de Esportes que ocupava no governo Cabral. Diante da decisão do Picciani, ele permaneceu. Mas, alguma coisa mudou no meio do caminho e no dia seguinte ao prazo final para deixar a Secretaria, Eduardo foi declarado candidato, o Diário Oficial saiu com data retroativa e ele se fez candidato. Picciani deve ter concordado.

Eduardo Paes registrou a candidatura, chegou ao segundo turno contra Fernando Gabeira e, para vencer, precisaria resolver outra pendência: Lula. Eduardo Paes na CPMI dos Correios acusou o filho do ex-presidente de pertencer a uma quadrilha. Precisou ajoelhar e pedir desculpas publicamente a dona Marisa, esposa do Lula.

No final, venceu por um pequeno punhado de votos. Seguiu a regra traçada por um político antigo, o Coronel do Exército Jarbas Passarinho, quando chamado pelo Presidente Costa e Silva a opinar sobre o Ato Institucional No. 5, aquele que fechou o Congresso Nacional, autorizou a tortura e prisão dos opositores: “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”.

Por Jackson Vasconcelos

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