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Entre Trump e Faulhaber

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folhaA política assemelha-se ao futebol em tudo, principalmente, na capacidade criativa dos operadores de campanha para justificar vitórias e derrotas.

A Folha de São Paulo, no final de semana, publicou uma entrevista com o Marcelo Faulhaber sobre a campanha do xará Crivella. Ele coordenou a campanha que venceu a eleição para a prefeitura do Rio e sai pelo lugar comum para explicar o resultado: o autoelogio e o traçado de uma receita que possa interessar a clientes potenciais, que ele identifica no Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e Marina Silva.

A manchete diz: “Para marqueteiro de Crivella, vez é dos outsiders da política”. Ele enquadra o cliente no figurino, um senador com dois mandatos, duas campanhas derrotadas para o governo do estado e outras duas para a Prefeitura do Rio. E deita falação sobre o resultado da eleição em São Paulo, vencida pelo “outsider” João Dória e voa aos Estados Unidos para aproximar Rio, São e Estados Unidos, onde Trump venceu a eleição presidencial.

Para quem olha de fora, sem aprofundar o exame dos resultados, Faulhaber vende bem. Mas, a avaliação dele não resiste a uma investigação cuidadosa.

Comecemos pelo Rio de Janeiro. Marcelo Crivella pouco esforço precisou fazer para vencer a eleição, porque nós todos, do outro lado, fizemos muito para perdê-la. Crivella nada tem de outsider e sequer de sortudo, porque tem perdido mais eleições do que vencido.

O Rio de Janeiro tradicionalmente vota em candidatos com perfil de gestores e de centro. Já comentei o fato aqui com exemplos. Na eleição deste ano, pelo menos três candidatos com perfil da preferência participaram do processo e dividiram os votos dos eleitores. Nenhum dos três empolgou os eleitores dos demais o suficiente para convencê-los do voto útil. Os eleitores da Jandira Feghali e do Molon fizeram o dever de casa e empurraram Marcelo Freixo para a disputa com Crivella no segundo turno.

Entre os três candidatos com o perfil de preferência, um deles poderia ter aglutinados as demais forças pela capacidade de elevada exposição desde a pré-campanha. Acontece que Pedro Paulo, candidato da prefeitura, participou da campanha com uma pedra de uma tonelada amarrada no pescoço: a acusação de surrar a esposa, quando casado com ela e fazer isso na frente da filha.

Outro ponto a considerar na vitória do Marcelo Crivella foi a decisão de todos os adversários dele de deixarem que ele, no primeiro turno, voasse com céu de brigadeiro, porque todos gostariam de tê-lo no segundo turno. Derrotá-lo seria pule de dez!

Marcelo Crivella aceitou de bom grado o jogo. Na pré-campanha, sumiu. Durante a campanha no primeiro turno, se fez de morto. Aqui e ali, nos debates, deu suspiros.

Quando ele entrou no segundo turno, contra Marcelo Freixo, contou novamente com a ajuda do adversário, que ao radicalizar a disputa transferiu terror para os eleitores que, entre o baderneiro e o bispo, preferiu o bispo.

Essa história de outsider, portanto, é uma balela enorme. E isso aconteceu também em São Paulo. Dória foi eleito, porque o eleitor da cidade abomina o PT, que contra Dória disputou com variáveis: um PT legítimo, representado pelo Haddad, um PT pré-histórico, com Erundina e um PT genérico, encorpado com o PMDB e com um arremedo de PSDB, que se prestou ao papel de vice da Marta Suplicy, PT histórico.

Portanto, no Rio, de Faulhaber e Crivella e em São Paulo de Dória e Alckmin, a disputa se deu no campo da política e não nos hemisférios dos outsiders. Já no Estado Unidos, lá sim, venceu o outsider Trump.

Em toda a entrevista do Faulhaber há dois outsiders: Trump e ele mesmo. Trump com dinheiro suficiente para falar o que bem entender e vencer eleições.

Por fim, cabe lembrar que na eleição passada para Prefeito do Rio, Renato Pereira apareceu no papel do Faulhaber. Fez sucesso, ganhou um bom dinheiro até que foi desmascarado na eleição seguinte.

Por Jackson Vasconcelos

 

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