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E os evangélicos, hein?

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Os resultados das eleições para todos os níveis no Brasil, inclusive para presidente da República, mostram que é inútil refletir sobre as campanhas no Brasil sem considerar a influência dos evangélicos, principalmente pentecostais – e não só pela vitória dos fiéis, mas também pelo discurso conservador que, em grande escala e velocidade, faz adeptos nos vários segmentos da política.

A estratégia de quem disputa eleições no Brasil precisa considerar esse fato. É uma falácia dizer que as campanhas ou os partidos não debatem ideologia. Debatem sim, com aridez e cada vez com mais raiva e ódio, no estilo de um fundamentalismo religioso. E não é de hoje.

Os evangélicos são conservadores extremados nos costumes, favoráveis radicais ao enfrentamento com violência na política de segurança pública (83% dos parlamentares evangélicos votaram a favor da redução da maioridade penal e a maioria defende liberdade para comprar e portar armas) e liberais na economia, porque as igrejas precisam de novos empreendedores entre os mais pobres, seu maior público contribuinte com dízimos e ofertas.

Esse conjunto ideológico tem dado base para o discurso político no Brasil há pelo menos 40 anos, tempo que coincide com a existência da Igreja Universal do Reino de Deus. Edir Macedo quebrou o tabu da participação política dos evangélicos para proteger sua igreja e o canal de TV que multiplicou sua capacidade de expansão. E fez escola! A acelerada expansão pentecostal acontece nos trilhos de um eficaz proselitismo praticado por um número cada vez maior de fiéis, na maioria, mulheres.

Antes do Edir Macedo, casos raros existiram de atuação das igrejas evangélicas na política de modo direto e influência forte. As igrejas tradicionais não entregavam os púlpitos aos políticos em tempo de campanha e quando pediam votos para os seus – nunca para os outros – isso acontecia de maneira sutil. As exceções, poucas, ficavam com as Igrejas Assembleias de Deus.

Edir, por interesses localizados, quebrou o tabu e as igrejas evangélicas, em especial, as pentecostais, foram de um extremo ao outro. Nasceu o slogan: “irmão vota em irmão”. O slogan aprimorou-se para uma situação de o irmão votar em quem eu pedir para votar e, recentemente, avançou para o conselho de irmão só votar em quem, mesmo não sendo irmão, vota em quem pensa como ele.

No livro “Política e Religião – A participação dos evangélicos nas eleições”, obra de excelência sobre o tema, a autora Maria das Dores Campos Machado afirma: “O tema da politização do pentecostalismo entrou na agenda dos pesquisadores brasileiros no final da década de 1980 e início dos anos 90 como resultado da atuação dos parlamentares evangélicos no Congresso Nacional e do apoio das comunidades pentecostais a Fernando Collor de Mello na eleição para presidente de 1992”.

Não foi diferente com as campanhas de todos os outros presidentes desde Collor. Lula perdeu satanizado pelos evangélicos e católicos carismáticos em 1992; mas adiante cedeu às pressões ideológicas e entregou à Igreja Universal o lugar de vice para o empresário José Alencar. Depois, Dilma quase sucumbiu pela presença do aborto na agenda de debates.

Jair Bolsonaro e os agregados dele no Brasil todo foram eleitos com a agenda conservadora nos costumes, radical e violenta no combate ao crime e liberal na economia. As atitudes e manifestações do presidente e dos agregados continuam com eles depois da campanha no exercício dos mandatos, para deixar claro que a agenda que cindiu a sociedade brasileira não será conciliadora.

As campanhas eleitorais são oportunidades para o debate de vários assuntos e de convencimento dos eleitores. Estamos aí no ano de véspera da campanha para as prefeituras e câmaras municipais, nível de poder mais relevante na estrutura do Estado Brasileiro, porque está com os prefeitos e vereadores a atribuição de oferecer os primeiros serviços de educação (primeira idade e fundamental), saúde e cultura. O significado principal de qualidade de vida está nas cidades, sob a responsabilidade dos prefeitos e vereadores.

Estejam certos os candidatos que a agenda conservadora (costumes) e de direita (combate ao crime com violência) e liberdade econômica para produzir terá prioridade no processo de seleção. Tem sido assim.

Mas vencerão só os que convergirem? Evidentemente que não, mas os vencedores serão selecionados pela posição ideológica que assumirem, antes de comprovarem-se prontos para o exercício institucional dos cargos que disputam. Os candidatos não terão como fugir, porque, infelizmente, a sociedade está num racha ideológico profundo.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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