Se a vaidade do Príncipe Philip criou-lhe ele alguns problemas, a vaidade dos redatores dos discursos da Rainha criou maiores para ela.
Crown destaca o discurso que fez Elizabeth II na inauguração da fábrica Jaguar de automóveis. As cenas compõem o 5º episódio da 2ª temporada. O título encaixa como luva no propósito da peça: “Os marionetes”.
Entro na histórica no momento em que o chefe de gabinete da Rainha lê, em voz alta, para seus assessores, o discurso que preparou para a Rainha:
– Talvez vocês não entendam, que da sua constância e capacidade de suportar a fadiga do trabalho maçante e repetitivo e da sua grande coragem para enfrentar pequenas e constantes adversidades dependem, em grande parte, a felicidade e a prosperidade da comunidade…
Aqui ele interrompe, faz alguns consertos e prossegue.
– O curso ascendente da história de uma nação se deve, em longo prazo, à correção de espírito de seus homens e mulheres comuns.
Um dos atentos ouvidos faz menção de falar. É um jovem assessor. Tanto o orador como os demais repreendem-no com o olhar, mas o jovem continua:
– … de seus trabalhadores?.
Entra na cena o olhar grave, ferino, do sujeito que lê a peça. E o jovem continua:
– É um pouco mais digno.
Todos fazem silêncio e o orador esnoba a sugestão:
– Não, acho que “comuns” está bom. E encerra o assunto, com ar de superioridade.
O jovem não desiste e sai às pressas para pedir o socorro de um colega, que corre até o gabinete de quem poderia rever a proposta. Lá, ele encontra o Chefe de Gabinete. Ouve, dos dois, o mesmo desdém.
Desavisada, a Rainha fez o discurso do jeitinho proposto pelo Chefe de Gabinete. Deu ruim! Aconteceu o previsto pelo assessores mais lúcidos. A reação contrária veio através de um jornalista, que publicou uma matéria dura contra o discurso. Dura, mas elegante.
O desenrolar da história é uma aula de política e comunicação. Vale assistir, principalmente, pelas reações da Rainha. Ele compreendeu as críticas e terminou por adotar as sugestões do crítico, com o objetivo de melhorar o discurso. Atitude difícil de se encontrar num mundo onde a vaidade impera.
Por Jackson Vasconcelos