Que pena! Dona Catifunda morreu. Não teve rivais. Eu adorava a participação dela nas aulas da Escolinha do Professor Raimundo, outro que já seguiu caminho. A sensação que a gente tem quando morre alguém especial é que do mundo só seguem cedo os bons, talvez, uma estratégia do destino, para encher logo o céu e retardar o crescimento do inferno.
Numa das aulas do Professor Raimundo, Catifunda disse ao professor e à turma haver criado uma banda de rock. “Aproveitei”, disse ela, “a minha grande semelhança com a Madonna e resolvi fazer um conjunto musical, que se chama a Madonna do Bixiga e suas Braboletas Cantantes”. Está no Youtube. Vale à pena.
Dona Catifunda era a Madonna. O homem não foi à Lua. A Terra é plana. A crise no sistema de saúde pública no Rio de Janeiro é um seriado da Globo. No Natal, se comemora o aniversário de Papai Noel. Jair Bolsonaro é um presidente sem filtro. É nesse mundo louco de perdas, descrenças e crenças obtusas que temos vivido. Parece que tudo virou de ponta cabeça.
Para contrariar Luigi Pirandello, nem tudo que parece ser, verdadeiramente, é. O homem foi sim à Lua. A Terra é redonda. A crise no sistema de saúde pública no Rio de Janeiro é real e resultado de muita incompetência na gestão de recursos públicos. O Natal é aniversário de Jesus Cristo e Jair Bolsonaro não é, como quer a capa da VEJA da semana, um presidente sem filtro.
Desde sempre, Jair Bolsonaro filtra tudo o que diz e o que faz, para falar só o que cria polêmica e provoca os adversários. É desse modo que ele se mantém em absoluta evidência. Ele faz o que faz, de caso pensado. Não sem autenticidade. Ele não conseguiria deixar de ser autêntico e, mentir algumas vezes, faz parte da autenticidade dele.
O presidente tem uma boa torcida e competidores ferozes. Ele sabe o interesse que têm seus adversários de multiplicarem o que ele diz, se o que diz contrariá-los, e conhece a força multiplicadora de sua torcida, quando provocada pelos contrariados. Jair Bolsonaro fez renascer na disputa política o conceito de rivalidade, algo que já se viu no Brasil há muitos anos, com PSD e UDN, Arena e MDB. Uma situação que o mundo do futebol conhece e sabe usar. Jair também.
A torcida do Jair Bolsonaro está quase toda ela na rede. Os contrários lá também estão e muitos como extensão dos braços da imprensa e de gente pesada da oposição. Isso facilita o trabalho do Presidente de provocar e manter acessa a rivalidade.
O jornalista Lauro Jardim publicou no domingo, 15 de dezembro, na coluna semanal que tem no jornal O Globo, uma pesquisa da consultoria Bites sobre o desempenho do Jair Bolsonaro na rede. No título, “As redes do presidente”. A pesquisa mostrou o crescimento de 42,5% na base digital do presidente em um ano. Nesse período curto, ele ganhou 9,7 milhões de novos fãs e chegou, no total, aos impressionantes 32,7 milhões de seguidores fiéis. É o quarto no mundo todo.
Não é atoa que ele faz um barulho dos infernos quando fala e digita. E, curiosamente, isso nada tem com credibilidade. Mesmo, muitas vezes, não acreditando no que diz o presidente, os seus aliados e adversários cumprem bem o papel que ele espera deles.
Ao ser chamado de energúmeno pelo presidente, o educador Paulo Freire ficou conhecido por muita gente que, certamente, nunca tinha ouvido falar dele. As pesquisas sobre Paulo Freire no Google cresceram e sabe-se que ele voltou a vender livros numa quantidade maior do que em qualquer outro ano, apesar de morto há 22 anos, sem novidade nas livrarias.
A menina Greta Thumberg entendeu o jogo do presidente e, ao ser chamada de “pirallha”, somou a agressão ao nome e fez do negativo, positivo, como, aliás, ensinou Rubinho Barrichello que, com certeza, ganhou uma boa grana com as campanhas da Vivo e da Havaianas, explorando a própria imagem negativa, transformando-a em uma bem-humorada imagem positiva.
Quem quiser vencer Jair Bolsonaro numa disputa eleitoral deve considerar que ele filtra sim, tudo o que diz e faz, e sabe exatamente porque age assim.
*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.
Por Jackson Vasconcelos