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Se não chover, querida…

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A maior dificuldade do discurso político é ser crível. Há causas várias para isso, mas uma é fulminante: o que é dito, a prática de vida não confirma. Hoje a invisibilidade é impossível, porque tudo o que é afirmado por alguém pode ser confirmado numa visita ao passado ou por imagens capturadas sem que o personagem autorize ou perceba. Nisso está o problema.

Todavia, há quem dê sempre uma mãozinha ao “investigador”. Gente que deixa escapar a incoerência no discurso que faz.

Algo como o jovem apaixonado que, no banco da praça da cidade de nascimento, fazia juras de amor à namorada. Ela um tanto amedrontada com as reações que o pai teria com a notícia que ela levaria a ele: o pedido de casamento feito pelo jovem.

– Marcos, estou com medo da reação do papai. Ele sempre foi contra o meu namoro com você.
– Meu amor, não se preocupe. Eu, por você, sou capaz de enfrentar qualquer dificuldade. Não tenho medo. Para casar com você, amor, eu encaro qualquer problema.
– 
Eu sei, mas meu pai é uma parada difícil!
– Eu enfrentarei ele.

Namoraram mais um pouco. A noite caía. Eles se despediram. A moça, então, fez a pergunta final:

– Marcos, você virá me ver amanhã?
– 
Se não chover, estarei aqui.

É o caso de perguntar: onde foi toda a valentia do moço diante do medo de se molhar?

E veja o que há na fala do Lula no último discurso que fez no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo:

“Companheiros e companheiras, eu, em 1986, eu fui o deputado constituinte mais votado na história do país. E nós ficamos descobrindo que dentro do PT  havia uma desconfiança que só tinha poder no PT quem tinha mandato. Quem não tivesse mandato… Puta, eu não citei o senador Humberto Costa que eu vi aqui, senador por Pernambuco, que eu não citei pra vocês. Ninguém me deu nominata. A Fátima (Bezerra, deputada federal), é do Rio Grande do Norte. Ela será governadora do Rio Grande do Norte…”

E Lula saindo citando toda a turma que tem mandato e estava no palanque, até chegar ao deputado federal Glauber Braga, que o Lula errou e chamou de Glauber Rocha:

“Porra, é Glauber Braga….”

E continuou.

“Pois bem, companheiros, quando eu percebi, que o povo desconfiava, que só tinha valor no PT, quem era deputado, Manuela e Guilherme, sabe o que eu fiz? Deixei de ser deputado. Porque eu queria provar ao PT que eu ia continuar sendo a figura mais importante do PT sem ter mandato. Porque se alguém quiser ganhar de mim no PT, só tem um jeito, é trabalhar mais do que eu e gostar do povo, mais do que eu…”

Quem não estava sem mandato no dia do discurso estava na praça a aplaudir os que têm e eram citados pelo “Cara mais importante do PT”.

Por Jackson Vasconcelos

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