15 de agosto de 2023.
Zema diz que não disse, mas se não disse, poderia ter dito, pois não existe dúvida de que as regiões norte e nordeste do Brasil exploram as demais e isso há bastante tempo.
Contudo, é injusto considerar o povo do norte e do nordeste agentes exploradores do povo do sul e do sudeste, pois o desenvolvimento das duas regiões deve muito – bastante mesmo – aos retirantes nordestinos. A exploração, tanto do povo do nordeste, do norte, do sul, do sudeste e, mais recentemente, do Centro-Oeste, é um papel exercido exclusivamente pela elite antes conhecida pela patente de coronel.
Meu pai nasceu em Gravatá, no interior de Pernambuco, cidade que fica a duas horas de Caetés, terra natal do Presidente Lula. Filhos do casal paupérrimo Ana Carolina e Maximino, meu pai e outros 11 irmãos trocaram o nordeste pelo Rio de Janeiro ainda na adolescência. A vida deles mostrou que decidiram bem. Depois, eles buscaram os pais. Lula foi para São Paulo, uma vez que em Pernambuco morreria de fome, como ele mesmo diz. E do mesmo modo aconteceu com uma grande multidão de nordestinos. Por lá ficaram os coronéis.
Na edição de 11 de agosto, sexta-feira, o Estadão publicou uma matéria em forma de texto, do repórter Daniel Weterman Levy Teles, para repercutir a provocação do Governador Romeu Zema, de Minas Gerais, que atribuiu ao norte e nordeste a alcunha de “vaquinha que produz pouco”.
Na matéria, o repórter informa que “Desde 2019, quando passaram a atuar em bloco, os 16 estados conseguiram receber da União R$123 bilhões a mais do que efetivamente arrecadaram”, enquanto, no mesmo período, o sul, sudeste e centro-oeste contribuíram com mais e receberam bem menos. Mas, a relação desigual sempre houve, com o argumento de equilibrar-se o desenvolvimento nacional.
Nordestinos, sulistas, goianos, mineiros, somos todos brasileiros, diferenciados, em seus locais de nascimento, pela qualidade de vida oferecida pelas políticas públicas gerenciadas por aqueles que governam cada um desses lugares.
Tomemos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nele estão os agregados de saúde, educação e renda representados em um ranking publicado pelo Atlas Brasil – www.atlasbrasil.org.br . Nele se vê o seguinte, em resumo:
Em primeiro lugar está a Corte, o Distrito Federal. Natural! Em seguida, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás. Depois, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí, Bahia entremeados com cidades do Centro-Oeste. No fim da linha, no último lugar, está o Maranhão, estado governado pela família Sarney e nos últimos oito anos, pelo Ministro Flávio Dino.
Ora, se o povo do nordeste e do norte vindo para o sul e sudeste, conseguiu contribuir para o desenvolvimento local e se por lá ficaram os coronéis, hoje líderes políticos, a quem devemos atribuir o insucesso das políticas públicas apesar de toda a grana transferida para lá? A resposta nos dirá quem é a “vaquinha que produz pouco” citada pelo Governador Romeu Zema.