Nem tudo que você diz ou escreve será compreendido do mesmo jeito por quem ouve ou lê. Ou dito de outro modo: a comunicação não é, exatamente, o que alguém exprime, mas o que outro alguém entende. A imprensa brasileira usa isso com maestria na palavra “suposto”. Busque-a no Google e você encontrará uma enxurrada de matérias e reportagens.
Eis algumas:
- “Suposto serial killer enfrenta primeiro júri popular”, Globo.com, de 15 de fevereiro.
- “Suporto serial killer é condenado a 20 anos de prisão”, Jornal A Tarde, de 16 de fevereiro. (A próxima notícia sobre assunto, certamente, será: “o suporto preso…”).
- “Chefe de polícia da Colômbia renuncia por suposto envolvimento com prostituição masculina”, Jornal Extra, de 17 de fevereiro.
Quem recebe a notícia, imediatamente, assume que o fulano qualquer é um criminoso, mas ele não terá o argumento infalível para denunciar quem atribuiu a ele o “suposto” crime. Afinal, suposto é uma hipótese, não uma afirmação concreta.
Pra qualquer lado que você olhar, qualquer que seja o dia e a hora, no noticiário você encontrará o famoso “suposto” crime de lavagem de dinheiro, o “suposto” triplex e o “suposto” sítio em Atibaia. Qualquer dia, um repórter escorrega e sapecará lá: “o suposto Lula, supostamente casado com a suposta Marisa…”.
Mas, o costume da imprensa me serve aqui tão somente para demonstrar que, quem lida com as palavras – caso dos políticos –, deve ter muita atenção com elas. Afinal, podem estar a falar ou escrever uma coisa, que será entendida como outra.
Vez em quando, um deles, morre pela boca, porque fala palavras com um sentido, que o eleitor, o povo, entende com outro. Até hoje, o ex-presidente FHC deve ter péssimas referências da palavra “vagabundo”. O “cheio do cavalo” persegue a memória do ex-presidente João Figueiredo. Marta Suplicy ficou com o “relaxa e goza” e o Paulo Maluf com “estupra, mas não mata”. Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio ficou marcado com o “eu minto menos que o César Maia”. Em Santa Cruz, num evento que eu estava presente, ele sapecou: “criança é que nem o lixo, a gente não pode deixar na rua”.
Mas, eles todos e quem mais quiser se candidatar ao posto dos políticos falantes e errantes, passaram a dormir mais tranquilos quando no cenário nacional surgiu a economista de quatro costados, senhora Dilma Rousseff. Na raia dos que falam uma coisa, para dizerem outra, a Dilma corre soberana. As frases são tantas que formaram um conjunto, que o jornal O Globo publicou, há tempos. Escolheu as dez mais significativas. Separei quatro. Mas, quem quiser as outras e muito mais pode se aventurar e comprar o livro do Celso Arnaldo Araújo, “Dilmês. O idioma da mulher Sapiens”. E, se tudo isso não servir suficientemente, vá ao canal da VEJA no Youtube e ouça o Reinaldo Azevedo.
A CULPA É DA MOSQUITA
“É a ‘mosquita’ que põe em média 400 ovos. Se você considerar que a ‘mosquita’ transmite também (o vírus), que é ela que pica, que ela que provoca a contaminação das pessoas. Portanto, se for uma moça grávida, o que acontece? Há um grande risco de a criança, se isso ocorrer nas primeiras semanas de gestação, ter microcefalia”.
ORANGOTANGO NÃO FAZ FOFOCA
“Nele (no livro), ele diz que nós criamos vínculos sociais e uma das coisas que mais nos une é a fofoca. Uma coisa que nos distingue, que chimpanzé não faz. Orangotango não faz.”
DOBRANDO A META
“Não vamos colocar uma meta. Vamos deixar em aberto. Quando a gente atingir uma meta a gente dobra a meta”.
A MANDIOCA
“Nós temos a mandioca, nós estamos comungando a mandioca com o milho. E certamente nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento da civilização humana ao longo do século. Então, estou saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil.”
OS BODES
“Então, é para que o bode sobreviva que nós vamos ter de fazer também um Plano Safra que atenda os bodes, que são importantíssimos e fazem parte de toda tradição produtiva de muitas das regiões dos pequenos municípios aqui do estado”.
Está dado o recado.
Por Jackson Vasconcelos