Recebi um telefonema curioso. Uma voz feminina gentil e direta quis saber a minha opinião sobre as reformas trabalhista e da previdência. Na terceira ou quarta pergunta, depois do blá, blá, blá, introdutório, onde estava o interesse em saber se estou empregado ou não, veio a chave da pesquisa: “O senhor abriria mão dos seus direitos para o governo garantir os direitos dos outros?” Entendi a intenção e respondi rápido: “Sim”. Senti que alguma coisa não bateu. A voz feminina agradeceu e encerrou.
Muitos políticos agem em relação às pesquisas como fazem os sindicatos: seguem à busca das respostas que lhes interessam. Algo como o sujeito que evita fazer exames para se conservar saudável, como lhes dizem os olhos amigos. Segue assim até o dia em que a morte súbita lhe diz a verdade.
As pesquisas eleitorais ou não terão boa serventia se consideradas, exclusivamente, como ferramentas para traçar a estratégia e a execução do projeto. Para tanto, precisam ser feitas com a mais absoluta honestidade e com toda a complexidade técnica que se consiga obter.
O questionário é elemento fundamental e deve indicar com clareza o que se precisa – “nunca o que se quer” – saber. E não faz sentido para a estratégia o ato de realizar uma pesquisa só, exclusiva, para funcionar como peça isolada, porque ela é a leitura de um momento ou de ocasião específica. Depois de uma, é necessário ter outra, para saber se funcionaram as medidas de modificação dos pontos negativos e de manutenção dos positivos.
Como acontece no campo da medicina. Faz-se o exame. Identifica-se o problema. Receita-se os medicamentos e faz-se novos exames para saber se os medicamentos fizeram efeito. E quando os exames não indicam anormalidades, ótimo. Periodicamente aconselha-se novos exames para ver se com o tempo surgiram surpresas.
Por Jackson Vasconcelos