A palavra do momento é golpe, que no dialeto usado pelo Presidente da República chama-se “Gopi”. Para os mal informados ou esquecidos, golpe é algo raro, mas nem tanto para quem observa a história da República no Brasil, que começou por aqui como produto de um golpe, liderado por um Marechal doente, cansado, curiosamente monarquista e amigo do Imperador. Dizem que uma dor de cotovelo deu ao Marechal o impulso necessário. A verdade, no entanto, é o desgosto da elite brasileira, contrariada com a Princesa Isabel pela ousadia dela de libertar os escravos.
De lá até a eleição da família Bolsonaro para a Presidência da República, a história da política brasileira veio de golpe em golpe.
Getúlio Vargas deu um golpe para chegar à presidência. Jânio Quadros renunciou à presidência para dar um golpe e voltar a ela. Contudo,o Congresso Nacional foi mais rápido e deu o golpe que criou o parlamentarismo. O Congresso então deu um novo golpe e tirou o presidente da república que, num contragolpe, derrotou o parlamentarismo.
Os generais deram um golpe no Congresso Nacional e assumiram a presidência. Ficaram no poder mais de 20 anos, equilibrando-se entre outros dois golpes: um em 1967 e outro, quando negaram ao Vice-Presidente civil a posse na Presidência da República, depois de falecido o presidente. Para sustentarem o golpe, os generais criaram o triunvirato presidencial.
Depois, o golpe ganhou status legal com o nome de impeachment, para permitir que o Congresso, sem crises institucionais, tirasse os presidentes que o povo elegeu. E hoje andamos aí com um debate sobre se Jair Bolsonaro pretendeu mesmo dar um golpe para manter-se ou não na Presidência da República após ter perdido a eleição.
Esse é o assunto do momento, um fato que continua a dividir o povo brasileiro, que já vem dividido – raivosamente dividido – desde a selvageria que houve entre o PT e o PSDB, entremeada pelos pilotos da Lava-Jato.
Essa maldita divisão já poderia ter desaparecido, se os presidentes da república compreendessem que é uma das atribuições deles liderar o povo; a mais relevante de todas as competências para governar. Um Presidente deve respeitar os contrários e conciliar os diversos segmentos da sociedade.
Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República com ódio aos adversários e com ódio deles governou. Também estimulou o ódio nos seus seguidores e Lula não tem deixado por menos. Nunca deixou.
Na falta de desejo dos presidentes, de onde poderia vir a conciliação? Está claro, claríssimo, que andamos a precisar de um líder, alguém que tenha autoridade moral e a autonomia necessária concedida pelo povo, para conduzir a Nação.