“Mas é preciso viver. E viver não é brincadeira não. Quando o jeito é se virar, cada um trata de si. Irmão desconhece irmão“. (Pecado Capital – Paulinho da Viola)
Tudo é motivo para fazer pesquisas e a imprensa anda ávida por notícias, Então, some-se isso e tem-se a matéria publicada pelo Estadão na edição de quinta-feira, 17 de agosto, no nobre espaço da primeira página, com a seguinte manchete: “País ganha, em média, 17 novos templos evangélicos por dia: entre 2015 e 2019, número passou de 20 mil para 109 mil”. Um gráfico colorido expõe os dados. O trabalho está assinado por um cientista político e não por um jornalista, Victor Araújo, um detalhe que dá à matéria o significado correto.
O pesquisador aponta causas para o crescimento do número de igrejas pentecostais. Diz que o fato tem relação com o esvaziamento das igrejas católicas e com o surgimento de uma nova lei em 2003, a lei 10.825. Promulgada por Luiz Inácio Lula da Silva e por Márcio Thomaz Bastos, a lei equipara igrejas e partidos políticos. Outro detalhe presente de aproximação das seitas com a política.
No entanto, entre as causas apontadas pelo cientista político falta a principal: as igrejas pentecostais são um ótimo negócio, sem chegarem a ser um “negócio da China”, pois por lá só valem os que não tornem as pessoas crédulas em outros deuses a não ser no comunismo, que anda em alta por aqui. Até o Presidente da República já se sente confortável com a alcunha.
As igrejas pentecostais são pontos de arrecadação de dinheiro e não pagam impostos. Quase tudo que pagam fazem em dinheiro e ninguém cobra dos pastores e bispos, que prestem contas. Sim, pois nas igrejas pentecostais há bispos, um passo a mais na escala hierárquica, pois pastor é cuidador de ovelhas. Quem sabe, os bispos não sejam os que cuidam dos bodes?
Está aí o motivo do enriquecimento rápido de alguns pastores e bispos. Os exemplos estão postos. Os fiéis suplicam a Deus por milagres, que os pastores e bispos dizem realizar e quando o feito não se completa o problema está na vida em pecado de quem clama. Coisa fácil de fazer. O dinheiro entregue aos líderes religiosos não vai pro céu, pois não tem como ir. Sobre isso, há uma velha piada contada também entre os pastores e bispos. Dizem que ao final de um culto, o dinheiro arrecadado é jogado para o alto e aquele que Deus pegar, será Dele. O que cair no chão terá outro destino, que poderá ser um avião particular, um iate, uma coleção de gravatas importadas ou banquetes regados a orações.
É interessante perceber que o número de igrejas pentecostais também chamadas de evangélicas cresce como vinha crescendo o número de partidos políticos e não por coincidência o dinheiro está na fonte. O Fundo Partidário realizou o milagre da multiplicação. Hoje, há mais de 30 partidos com registro definitivo no TSE e a fila de pedidos cresce quase todo dia. O TSE negou vários, mas outros tantos ainda correm por lá.
Contudo, como o dinheiro a ser dividido entre os partidos é o mesmo, os donos dos partidos ativos iniciaram o caminho para inibir a criação de novos sócios para o dinheiro público. Finalmente, entrou em vigor a esperada cláusula de barreira, pois uma vez que o “divisor” é o mesmo, que se mantenha ou se reduza o “dividendo”, para que a parte recebida por cada um não seja menor.
Há, no entanto, uma diferença entre partidos e igrejas evangélicas pentecostais, quando a gente olha o crescimento no número de adeptos. Quase ninguém tem interesse na filiação aos partidos, pois o único milagre que eles operam é a eleição de alguns dos seus para bons empregos. Já as igrejas – ah! – nelas não faltam milagres. Existem para todos os gostos, desde a conquista de um bom emprego, a cura de uma doença, a compra de um carro novo, o dinheiro do aluguel do apartamento, que andava faltando e até um casamento bem arrumado e o aparecimento de um filho que não tinha jeito de nascer antes das orações.
Quando o assunto é a conquista de membros ou filiados, os partidos sofrem como Martinho da Vila, que canta: “Dinheiro, pra quê dinheiro, se ela não me dá bola?” (Martinho da Vila). Já os pastores e bispos, esses que enriquecem rápido, ficam com Rita Lee: “Grana, Bufunfa, Dindin. O resto tá bacana pra mim”.