Numa democracia,quando falta oposição, o povo fica refém dos governos ou se obriga, ele mesmo, a desempenhar o papel sem os instrumentos institucionais. É o recado que veio das ruas e das vaias aos políticos da oposição, que apareceram nas manifestações. O grito pelo impeachment e de apoio ao Juiz Sérgio Moro foram de um povo que não conta com os que elegeu para cumprirem, em seu nome, o contraditório, o papel de oposição.
Isso vem de longe. De muito longe.
Tivemos o mensalão, que nas mãos e na voz de uma oposição competente, teria impedido a reeleição do Lula. Mas, a oposição preferiu defender o mandato de um dos seus, o do senador mineiro, Azeredo. Lula, malandro, usou bem o fato e se fez presidente novamente.
Depois, dividida, a oposição, representada pelo PSDB e pelo quase extinto Democratas, entregou a Presidência da República a Dilma Rousseff, uma invenção do Lula. Ela governou mal e chegou ao momento da reeleição com taxas elevadas de rejeição. A oposição novamente subestimou o Lula. Achou que com as denúncias novas de corrupção a eleição seria pule de dez!
No meio do caminho, sem sequer resmungar, o PSDB aceitou bem que o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, condutor da eleição, fosse alguém que só tinha no currículo o título relevante de advogado do PT e do Lula. Ninguém levantou suspeição sobre o fato e tivemos, no final do processo, o vexame de uma apuração feita para cinco ou seis funcionários do TSE, antes de ser dado conhecimento do resultado ao povo.
Há poucos dias, a Presidente fez uma viagem às expensas do Tesouro Nacional até São Bernardo do Campo, para prestar apoio ao vivo e a cores ao Lula, que impõe dificuldades à Justiça. O ato da presidente está tipificado na Lei do Impeachment, claramente, como crime de responsabilidade (Lei 1.079/1950 0 artigo 4º.II), mas a oposição, representada pelo quase extinto DEM, preferiu questionar as despesas da Presidente e deixou de lado o crime tipificado.
Agora, Lula é ministro. A oposição e a imprensa aceitam a tese de ser, simplesmente, um ato de fuga da possibilidade de ser preso pelo Juiz Sérgio Moro. Ou de obstrução à Justiça, que levaria junto a Presidente. Isso é nada diante do que pode fazer Lula. Ele será um Presidente-Ministro, porque a presidente não existe mais. Será, portanto, Presidente por mais dois anos sem passar por uma nova eleição e usará todo o potencial de votos e dinheiro que tem o cargo de Presidente da República, para preparar o retorno dele à presidência. Será o nosso Berlusconi, o sujeito que fez sem sentido a operação Mãos Limpas na Itália.
A estratégia é uma ferramenta essencial para a atividade política, para o bem e para o mal. O Lula maneja bem ela, a oposição nem sabe que ela existe.
Por Jackson Vasconcelos