Publicado no Diario do Rio no dia 14 de junho de 2023.
Jackson Vasconcelos conta as histórias de amizades e traições dos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro desde Miro Teixeira com Chagas Freitas a Eduardo Paes com Cesar Maia
Quintino registrou “Eduardo Paes e a arte de fazer inimigos“. É verdade. Eduardo Paes, nesse campo, age com propriedade: faz inimigos, assim como faz amigos, com a mesma velocidade, mas nunca na mesma proporção, pois ele tem vencido eleições e ao que eu tenho visto poderá vencer mais uma, pois até aqui falta-lhe adversários à altura.
Eduardo Paes é a melhor demonstração de um comportamento comum na política: as conveniências. Aquilo que o cidadão não político chama de traição, a política lê como conveniência. Em todo o lugar é assim no globo terrestre, de norte a sul, de leste a oeste. Mas fico, para efeito de demonstração, com a política carioca, pela curiosidade dos movimentos.
Enquanto foi conveniente ao Miro Teixeira ter uma ligação estreita com o governador Chagas Freitas, assim ele fez até acreditar que para ser prefeito do Rio deveria abandonar o antigo padrinho, o amigo de bastante tempo. Deu com os burros na água. Sabe-se que Chagas Freitas morreu sem perdoá-lo.
Cesar Maia surgiu na política com o apoio de Leonel Brizola, que deu a ele funções proeminentes, a ponto de torná-lo um candidato competitivo para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Brizola, contudo, acreditou que na eleição de 1992, seria ainda cedo demais para concordar com o desejo do amigo de ser prefeito do Rio. Cesar Maia, então, livrou-se do Brizola, fez uma campanha duríssima contra ele e contra a candidata dele, Cidinha Campos, que morreu na praia. Com mais sorte ou inteligência que Miro Teixeira, Cesar Maia chegou à prefeitura e fez de Luiz Paulo Conde seu sucessor. Conde manteve-se amigo de Cesar Maia, enquanto lhe foi conveniente. Para continuar prefeito chutou o antigo aliado e, como aconteceu com Miro, deu com os burros na água.
Chegamos ao Eduardo Paes e para quem conhece o enredo pode ser cansativo repetir. Faço-o em respeito a quem não conhece. Eduardo Paes foi amigo de Cesar Maia até ser mordido pelo desejo de chegar à prefeitura antes do tempo determinado pelo padrinho. Então, Eduardo rompeu relação com Cesar Maia, fez uma campanha duríssima contra o ex-amigo, com acusações as mais estranhas e venceu a eleição. Uniu-se ao Sérgio Cabral e ao Lula e assim ficou até que a companhia dos dois fosse incômoda. Então, voltou, no primeiro momento, aos braços do Cesar Maia e, logo depois, ao aconchego do Lula. Certamente, não se atreveria a voltar a conviver com Sérgio Cabral. Sabe-se lá.
Tenho uma dúvida: haverá alguém, nas próximas eleições, que sendo hoje amigo do Eduardo Paes venha a ser inimigo dele, quando for contrariado? O futuro a Deus pertence.