Por justiça, as lutas políticas deveriam ser pagas pelos partidos, sem o uso do Fundo Partidário, que é formado com o dinheiro dos impostos. Mas, não é desse jeito que a banda toca. A população paga as despesas e os custos, o maior deles, o tempo que corre como o Brasil parado ou andado pra trás. Há exemplos, que confirmam o fato.
O ex-presidente José Sarney fez a sociedade pagar um preço alto pelo desejo dele de governar cinco e não quatro anos. O projeto pessoal criou o mais veloz e cínico rodízio de cadeiras ministeriais e cargos públicos que se tem notícia e, em paralelo, houve larga distribuição de dinheiro do orçamento para atender deputados e senadores.
Afinal, o modelo de composições políticas instituído no Brasil só considera completos os ciclos de negociação que envolvam cargos e verbas públicas. O gabinete de ministros do ex-presidente Sarney, formado por 31 pastas, teve 65 políticos ministros. O roteiro fez com que o Brasil ficasse inerte aguardando o final da história.
Depois do ex-presidente Sarney, tivemos Fernando Collor de Mello. O homem começou impoluto, disposto a tudo para evitar um governo inchado e caro. Contudo, ele precisou negociar a permanência no governo, quando as decisões obscuras que tomou foram descobertas. Trinta e seis ministros ocuparam 17 ministérios para, somados com uma cachoeira de dinheiro público, impedir o impeachment. O Brasil parou, o povo gastou muito e nada disso adiantou. O sujeito foi defenestrado.
O ex-presidente Itamar Franco, sisudo e honesto conseguiu evitar as negociações espúrias. Houve alguém que até tentou empurrar o presidente, o Dr. Antônio Carlos Magalhães, da Bahia. Ele tentou chantagear o presidente com um dossiê de denúncias, que anunciou aos quatro ventos possuir. O presidente não caiu na história. Convocou o Dr. Antônio Carlos Magalhães ao Palácio para que ele apresentasse as denúncias e, sem que o denunciante soubesse previamente, colocou na sala de audiências toda a imprensa brasileira. Desmoralizou o político.
Fernando Henrique Cardoso caminhou bem, uma no cravo outra na canela, até que entendeu ser importante para o Brasil o que era importante também, principalmente, pra ele: a oportunidade de ser candidato à reeleição. Inteligente, ele preservou a área econômica e os ministérios da Saúde (José Serra) e da Educação (Paulo Renato) e entregou o resto aos políticos tradicionais. O Brasil parou um bom tempo, na expectativa da decisão do Congresso.
Depois, a festa do PT, uma bomba acionada no início do primeiro governo. A Revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas, denunciou o loteamento dos cargos públicos. Robert Fendt, editor da revista, foi demitido por pressão do Presidente da República.
Agora temos na pauta o impeachment da Presidente Dilma em conjunto com as denúncias de enriquecimento do Presidente da Câmara dos Deputados pelo tráfico de influência. O Brasil parou diante da derrama de dinheiro do orçamento e do rodízio nas cadeiras ministeriais. Há situações semelhantes às que envolvem os técnicos de futebol. Tem gente no ministério da presidente Dilma que já foi ministro de pastas diversas em momentos não tão diversos.
Até que se a Câmara dos Deputados decida sobre as denúncias contra a Presidente e o Brasil assista à cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha e a possível prisão dele, o povo paga a conta, com desemprego, impostos altos, serviços públicos piores e a mais vergonhosa cadeia de falta de escrúpulos, de chantagens, mentiras e leviandades de toda sorte. No caso do Deputado Eduardo Cunha, há um sofrimento adicional: a exposição que ele faz do mais absoluto cinismo.
Vamos que vamos. Esse, lamentavelmente, é o Brasil que temos.
Por Jackson Vasconcelos