Fake News é a febre do momento eleitoral. Algo assim como um barco em que todo mundo embarca sem saber aonde está indo. A Fundação FHC, o Centro Edelstein e a rádio CBN pularam dentro desse barco. Fizeram uma boa exposição em vídeo e texto. Eu senti falta de um detalhe, que pode ser a peça principal de argumentação para quem deseje trabalhar um projeto de comunicação para política.
“Sobrevivendo nas redes” está representado num talk show CBN com o sociólogo Bernardo Sorj e o jornalista Pedro Dória. Diretor da CBN, Ricardo Gandour atuou como moderador. O objetivo é orientar os usuários das redes sociais com medidas que evitem que compartilhem notícias falsas.
Esforço louvável, mas de certo modo, inútil, porque as orientações caminham na direção oposta ao espírito humano, que ama compartilhar o que gosta e tem apreço nenhum por checar informações. O sabor doce do compartilhamento está em divulgar aquilo que mexe com as emoções diretamente.
Ricardo Gandour abriu o “talk show” com uma pergunta direta para Bernardo Sorj, professor da UFRJ e componente do grupo de autores de um guia que ensina os usuários das redes a lidar com as fake news. O Guia foi anunciado na ocasião.
“Como é que a gente sobrevive neste oceano de informações, de redes sociais? Há um manual que nos ajude a sobreviver? O que é verdade? O que é notícia falsa? A partir de hoje, existe…o Guia de Cidadão… Começo o nosso encontro com uma pergunta para Bernardo Sorj, um dos autores do Guia. Bernardo, de cara, conta pra gente um conselho para quem queira sobreviver nesse oceano de confusão”:
Ricardo Gandour respondeu:
“De cara, um conselho pra quem queira sobreviver nesse oceano de confusão. Desconfie de qualquer mensagem na qual você automaticamente acredite que é verdadeira. Em geral, só fake news são produzidos pensando que preconceitos, que prejuízos, que crenças você tem. A mensagem é feita para reafirmar o que você acredita. Considerando que você só reenvia uma mensagem que confirme as suas crenças, dificilmente você vai divulgar uma mensagem em que você não confie… Se houver uma mensagem em que você acredita, desconfie, confira se é verdadeiro, pare para pensar…”
Aqui está o nó: “Confira se é verdadeiro”. Pergunto: Quem fará isso?
O espírito humano não tem espaço para conferir fofocas, boatos. Ele, simplesmente, passa a notícia que recebe. Houve época que, pelo menos a maioria dos jornalistas checavam. O não conferir ficava por conta dos maus. Hoje, nem os jornalistas, bons ou maus, conferem. Aquilo que tem chance de bombar na rede, isso segue. Quando os jornalistas ouvem os citados, coisa rara, o que ouvem tem serventia zero como informação correta. Passam adiante com desdém.
Quem tem imagem a zelar e depende dela para sobreviver numa profissional, que dela, pessoalmente, cuide. Acompanhe o uso que outros fazem dela e, diante de uma notícia falsa, tome as providências para colocar a verdade com força suficiente para desfazer o que foi mal feito.
No Direito Penal, a quem acusa cabe o ônus de provar e se não provar estará sujeito às penas da lei. Mas, quando o assunto é imagem, nenhuma reparação será suficiente. Então, à imagem agredida cabe, além das providências judiciais, o cuidado de, imediatamente, repor a verdade.
Quem depende da imagem, políticos, artistas e gente parecida, deve estar atento para as agressões à própria imagem. Não espere que alguém vá conferir antes de distribuir. Nunca!
Por Jackson Vasconcelos