Em Era uma vez um sonho, J.D. Vance conta a história de sua vida como uma criança da classe trabalhadora do “Cinturão da Ferrugem” dos Estados Unidos, onde sua família, como tantas outras, enfrentava os impactos de uma crise cultural e econômica. Ele narra a trajetória de seus avós, que migraram para essa região e encontraram na indústria uma promessa de ascensão social. Mas, à medida que o declínio econômico se instalava, o sonho de estabilidade e prosperidade foi dando lugar a uma realidade de abuso de substâncias, violência doméstica e falta de perspectivas, aprisionando famílias em um ciclo contínuo de dificuldades.
A narrativa de Vance se torna poderosa ao oferecer uma visão íntima e direta do declínio da classe trabalhadora branca nos EUA. Ele é pioneiro em mostrar essa realidade “de dentro para fora”, revelando as feridas e contradições de uma classe social que frequentemente não é compreendida. Em seu relato, ele descreve o doloroso equilíbrio entre o desejo de afastar-se do ambiente caótico e a lealdade aos laços familiares. Entre momentos de proximidade e de distanciamento, Vance busca entender as raízes do sofrimento de sua comunidade, expondo como a falta de confiança e de oportunidades se perpetua entre gerações.
Vance consegue romper esse ciclo ao se formar em direito na Universidade de Yale, mas sua ascensão traz uma reflexão ainda mais profunda: embora ele tenha alcançado o “sonho americano”, o preço dessa conquista é a divisão entre o mundo do qual ele veio e o novo ambiente onde foi inserido. A análise social de Vance não é apenas sobre a classe trabalhadora americana, mas um retrato de uma realidade compartilhada em diferentes lugares do mundo, onde sonhos podem dividir e machucar aqueles que mais precisam de esperança.
Best-seller desde 2016, Era uma vez um sonho também é lido como um guia para entender a alienação e as condições que impulsionaram movimentos políticos recentes, como a eleição de Donald Trump. Com uma honestidade comovente, J.D. Vance transforma sua história pessoal em uma crítica ao sistema, mostrando que o “sonho americano” não é alcançável para todos de maneira igual.
Esse livro é uma leitura essencial, tanto para compreender as complexidades da sociedade americana quanto para refletir sobre questões universais de classe, pertencimento e resiliência.