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César Maia, arrependido?

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“Na Casa Branca reside um outsider que conquistou a candidatura do Partido Republicano com base na mais radical heterodoxia política”, escreveu Andrea Rizzi do El País, em artigo reproduzido por César Maia, num espaço próprio, onde ele reproduz, diariamente, matérias vindas de todo canto e comenta. Ex-Blog.

Andrea Rizzi está no Ex-blog do dia 20 de dezembro com o título “A Perigosa Missa Fúnebre dos Partidos em Todo Mundo”. César Maia deu espaço ao Andrea Rizzi para dizer que concorda com ele na verificação do esvaziamento dos partidos políticos na França, Inglaterra, Rússia, México, enfim, no mundo todo. E faz coro também com o alerta final:

“(…) Porque embora os partidos tenham alcançado em muitos lugares do Ocidente níveis de corrupção, inépcia, mesquinhez partidária e mediocridade elevadíssimos, seu calvário, a falta de alternativas claras representam uma lacuna no próprio centro do sistema de representação das democracias liberais”. E encerra…”É urgente a renovação dos partidos antes do término da missa fúnebre”.

Logo adiante, está reproduzido o texto trazido pelo César Maia.

Ora, se há alguém nesse mundão de Deus que nunca referenciou ou, pelo menos, deu importância aos partidos políticos, esse alguém é César Maia. Os partidos por onde andou e onde está só lhe tiveram a serventia de atender ao projeto pessoal de poder. Mas, sou fã do César e a minha admiração por ele me faz acreditar que quando ele compartilha a análise e a preocupação de Andrea Rizzi, ele pode estar a um passo da confissão dos próprios erros e do arrependimento. Depois disso, fosse eu o padre que César Maia visita no confessionário, daria a ele o perdão com apenas dois “Ave-Maria” e um “Pai Nosso”.

“A PERIGOSA MISSA FÚNEBRE DOS PARTIDOS EM TODO O MUNDO”!

(Andrea Rizzi – El Pais/OG, 15)

1. Cada vez mais, nomes alternativos superam legendas tradicionais. Na Casa Branca reside um outsider que conquistou a candidatura do Partido Republicano com base na mais radical heterodoxia política.

2. E depois, com a mesma retórica, alcançou a presidência: no Eliseu habita uma figura antipódica, mas que também lançou seu projeto de conquista do poder desde fora do sistema tradicional de partidos, fundando seu próprio movimento para isso.

3. Em Downing Street trabalha uma política ortodoxa que, no entanto, tem de dedicar todos os seus esforços a administrar um incêndio, o Brexit, ateado contra a vontade unânime dos dirigentes dos partidos britânicos (conservadores, trabalhistas, liberal-democratas, verdes e nacionalistas escoceses defendiam a permanência na UE).

4. Agora, no Kremlin, um lobo velho com muito olfato anuncia que, para continuar ali, competirá nas presidenciais do ano que vem como candidato independente. Obviamente, o panorama político russo é muito diferente do estadunidense, francês e britânico. À margem de definições abstratas, o grau de pluralismo na Rússia é gravemente inferior, e a manobra de Putin é um giro meramente tático com o qual o líder tenta reforçar sua imagem de pai da pátria acima dos partidos.     

5. Na Rússia os partidos há muito tempo significam muito pouco. Mas a pequena manobra tática de Putin diz muito. Lança nova luz sobre a grave crise dos sistemas de partidos em um grande número de países.

6. No México, o PRI, totem da categoria dos partidos, acaba de escolher como candidato um homem com uma trajetória atípica, exógena a suas fileiras, e que foi ministro sob um presidente de outro partido.

7.  Na Itália, outrora canteiro de partidos formidáveis (e formidavelmente corruptos), ganha cada vez mais força a possibilidade de que depois das eleições do próximo semestre governe alguma figura alheia ao foro mais íntimo dos partidos. A lista poderia prosseguir.

8. O índice de confiança dos cidadãos nos partidos se encontra em níveis mínimos. O Eurobarômetro do primeiro semestre deste ano mostra dados demolidores. Os partidos são a instituição que obtém o menor grau de confiança dos cidadãos europeus, míseros 19%. Polícia e Exército têm média de 75%; a Justiça, 55%; e até outras instituições políticas alcançam marcas muito melhores: autoridades locais e regionais, 52%; governos, 37%; parlamentos, também 37%.

9. Não é de estranhar, portanto, que a capacidade dos partidos de atraírem os melhores talentos juvenis esteja profundamente reduzida. Tudo isso representa um sério risco. Porque, embora os partidos tenham alcançado em muitos lugares do Ocidente níveis de corrupção, inépcia, mesquinhez partidária e mediocridade elevadíssimos, seu calvário, a falta de alternativas claras, representam uma lacuna no próprio centro do sistema de representação das democracias liberais.

10. Que, por sua vez, na falta de serem inventados sistemas melhores, é o que produziu em termos comparativos os maiores níveis de progresso social, econômico e cultural. É urgente a renovação dos partidos antes do término da missa fúnebre.

Por Jackson Vasconcelos

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A casa branca, Domínio público, via Wikimedia Commons
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