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Até quando, um tolerará o outro?

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Caramba! Geraldo e Lula; Lula e Geraldo. Isso está dando uma enorme confusão na cabeça de quem acreditou durante anos que o PT do Lula e o PSDB do Geraldo formassem dois pólos distintos na política nacional.

Quem, com mais cuidado, prestar atenção àquilo que chamam de dois pólos no reinado dos reis Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, verá que há nisso um grande engano. O PT e o PSDB disputaram o poder no Brasil com o mesmo propósito, de dar ao Estado Brasileiro, cada um a seu modo, o protagonismo absoluto na vida da sociedade brasileira. Portanto, para os liberais, tando faz dar na cabeça como na cabeça dar.

Foram cara e coroa de uma mesma moeda. Muitos me contestam nas conversas que tenho tido sobre o assunto, com o argumento da privatização, para dizer que o Presidente Fernando Henrique Cardoso foi diferente do Lula no apreço que demonstrou pela privatização.

Mas, rodamos, rodamos e rodamos, e as empresas privatizadas caíram nas mesmas mãos do Estado, representado pelos Fundos de Previdência do Banco do Brasil e de outros organismos estatais. Buscou-se o capital privado, para não se perder o comando nas empresas.

Além do que, o tucano Fernando Henrique Cardoso não privatizou empresas por acreditar no modelo, mas por precisar do dinheiro que a privatização liberaria para suas artes. Artes do Estado na vida econômica da sociedade. No Estado do Rio de Janeiro, o exemplo foi mais latente, com o plano de privatização das empresas do governo estadual. O governador Marcello Alencar, tucano nas hostes do Brizola, privatizou empresas e negócios pela falta absoluta de dinheiro, como aconteceu com a CEDAE no presente. Convicção de que nas mãos do setor privado, os serviços seriam melhor prestados, isso nunca existiu no ninho dos tucanos.

Na campanha de 2006, Lula acusou Geraldo de ser privatista. Geraldo recebeu o discurso do adversário como uma agressão, uma grande mentira e para fazer o contraponto vestiu uma camisa com a estampa do Banco do Brasil. Em 2018, Geraldo voltou ao assunto, para garantir que não privatizaria a Petrobras nem o Banco do Brasil.

Então, tem-se que o PSDB de Geraldo, de Fernando Henrique, Aécio e outros tucanos, está no mesmo pólo do PT de Lula, quando o Estado é o tema. Por conveniência, em lados opostos, os dois disputaram a Presidência da República em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. O PSDB levou em 94 e 98 e nunca se incomodou em não levar no restante. O jogo foi jogado assim, até que surgiu alguém que entrou na briga contra os dois e levou vantagem. Aí não houve como não se unirem.

Nesse caso, precisaria Geraldo deixar o PSDB? Houve necessidade, sim, porque no ninho tucano pousou uma ave predadora, João Dória. Os tucanos não conseguiram expulsá-lo, então, bateram as asas, mantiveram a identidade e em nome dela, há pouco tempo, Lula e Fernando Henrique sentaram-se para jantar a convite de um ministro comum aos dois, o senhor Nelson Jobim. Ministro da Defesa de um e da Justiça do outro.

Em 2018, o povo escolheu Jair Bolsonaro, porque não queria entregar o governo ao PT, nem ao PSDB. Agora, existe gente por aí a pregar que o povo, novamente, não entregue o governo ao PT, mas também não ao Jair Bolsonaro. Ou seja, temos uma plêiade de candidatos que quer repetir o feito do Jair Bolsonaro na eleição passada. Ser o “nem um, nem outro”.

No entanto, mesmo sendo, juntos, representantes de um pólo, Lula e Geraldo, certamente, terão problemas com seus liderados, porque, durante todos os embates nacionais, as disputas foram com elevado nível de crueldade. No ambiente incomum dos dois, poderá ocorrer o que aconteceu na disputa pelo poder entre a turma do PMDB, de Ulysses e os dissidentes do PFL, na eleição do Presidente Tancredo Neves. A briga por espaços foi duríssima, a ponto de, em alguns momentos, inviabilizar o governo Sarney, herdeiro dos acordos que Tancredo fez para acomodar todos.

Neste ponto do tempo, é hora de chamar Edmund Burke para a conversa. Conservador liberal do século XVII , ele alertou os políticos quando em fase de composições: “Existe um limite depois do qual a tolerância deixa de ser uma virtude”. Aí, então, cabe perguntar, para decidir o voto: até onde irá a tolerância do Geraldo com Lula e do Lula com o Geraldo? Em que momento da convivência dos dois, a tolerância levará ao rompimento ou à subserviência?

O slogan da campanha da chapa Lula e Geraldo diz muita coisa para os liberais, quando observado com a lembrança do que foram as seis disputas presidenciais entre as duas correntes: ‘Não vamos desistir do Brasil”.

O tempo dirá.
Boa semana para todos.

Foto: Reprodução PT. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

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