Jackson Vasconcelos, 31 de outubro de 2024
A história de nossa gente está marcada por anistias e, se há um símbolo para ela, Juscelino Kubitschek é o melhor candidato. E se houver um segundo lugar no pódio nacional, eu o daria ao João Figueiredo.
Pois bem, somos um povo dado a perdoar.
Há no Congresso Nacional um grupo de parlamentares buscando anistiar dos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, quando baderneiros liderados, sabe-se lá por quem, saíram a invadir prédios públicos e a promover quebradeiras.
Desejo a anistia, pois, certamente, entre os punidos, estão pessoas que nada tiveram com a bagunça e estavam em Brasília, em frente aos quartéis do Exército, com o propósito de reivindicar a permanência de Jair Bolsonaro na Presidência da República, depois de ter ele sido vencido na eleição. Gente que não se conformava em entregar o país ao Lula.
O que queriam, então? Que o Exército agisse em nome deles, uma vez que as urnas não foram suficientes. Eles deveriam ser punidos por isso? Nunca. O próprio Exército deu-lhes a resposta devida ao não agir. Caberia à Justiça, depois de apurados os fatos e identificados os baderneiros, puni-los e nem precisaria ser com penas de prisão. Bastaria que impusesse a quem promoveu e executou a quebradeira, a obrigação de pagar pelos prejuízos.
Mas, os exageros da Justiça – poder que se torna muito perigoso quando exagera, assim como acontece com a polícia – não podem desfigurar a intenção de quem estava nas ruas, em Brasília, em frente aos quarteis do Exército, no dia 8 de janeiro. Insisto: o objetivo do grupo era conseguir que o Exército garantisse a permanência na Presidência da República de um presidente derrotado na eleição. Quiseram repetir o que houve no Brasil em 1964, quando os militares sustentaram a decisão do Congresso Nacional de exonerar o presidente eleito, forçando a mão no uso da Constituição. Dada a senha, os militares assumiram o poder, praticaram uma ditadura altamente cruel e foi uma luta enorme tirá-los de lá.
Permitam-me andar um pouco mais com essa história, para lembrar que Jair Bolsonaro, ainda presidente, estimulou a população a buscar a ajuda do Exército, assim como incentivou a ira dos magistrados. O Exército disse não. Os magistrados, estes sim, aceitaram a provocação. Aproveitaram-se dela.
O que fez Jair Bolsonaro após as prisões dos “companheiros”? Cara de paisagem e agiu como se o assunto não fosse com ele. E só após estar seguro de que poderia dizer alguma coisa sobre o tema, posicionou-se a favor da anistia e o fez, timidamente.