29.10.2023.
Só recentemente assisti ao documentário “Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho”, obra da Globoplay, que estreou há mais de um ano, no dia 29 de abril de 2022, quando se deu a largada na disputa pela Presidência da República. Os autores do trabalho levam os espectadores para um ambiente onde estão ligados o jogo do bicho, as milícias, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o filho dele, Flávio e o assassinato da vereadora Marielle Franco. Só no final, fica-se sabendo que o documentário representa uma homenagem à vereadora. A percepção é de ser um documentário propositadamente exibido no tempo da campanha presidencial para influenciar o resultado.
Desconheço se naquele momento a Justiça Eleitoral foi provocada para impedir a veiculação do documentário, mas se foi e decidiu deixar correr, fez bem, pois observou o que diz a Constituição Brasileira, que registra, expressamente: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. De modo diferente, no entanto, decidiu a Justiça Eleitoral, quando o canal Brasil Paralelo anunciou o documentário, “Quem mandou matar Jair Bolsonaro”. O TSE proibiu a exibição até a proclamação do resultado da eleição e puniu o canal com a suspensão do fluxo financeiro que o mantém de pé. É dispensável dizer mais qualquer coisa para entender as frases polêmicas, “perdeu mané” e “vencemos o Bolsonarismo”.
“Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho” dá sentido às tormentas do povo carioca com as milícias. Nele se vê materializada a coragem de uma mulher que não mediu riscos para interromper a valsa livre nos salões da elite carioca da turma que comanda o jogo do bicho. A sentença de Denise Frossard sacudiu a hipocrisia da elite e da classe política carioca, mas não deu jeito nela. Aí estão as milícias a frequentar os mesmos salões. O documentário não toca no tráfico de drogas. Sabe-se lá o motivo.
“Quem mandou matar Jair Bolsonaro” foi exibido após a proclamação do resultado da eleição para a Presidência da República, como desejou a Justiça Eleitoral. A dúvida sobre o mandante do assassinato do candidato à Presidência dá sentido ao documentário e faz o contraponto com outra interrogação: quem remunerou Ronnie Lessa, o matador de aluguel, para que ele assassinasse a vereadora?
No fim das contas, os dois documentários se compensam e em conjunto explicam como funcionam no Brasil, a Justiça, os crimes e a investigação quando se misturam com a política. É a lei da compensação, que o povo brasileiro ainda não compreende como funciona. O confuso escritor Ralph Waldo Emerson, pelo menos nisso mostrou convicção: “Tudo na vida e na natureza gira em torno da dualidade e se compensa”. Nada melhor do que isso para um povo que se sente bem num ambiente polarizado.